‘Acharam que ela era bandida’, disse filha de arrastada por PMs no Rio

Thais Lima foi ao estúdio do Bom Dia Rio nesta terça-feira (18). 

Cláudia Ferreira da Silva foi arrastada por carro da PM após ser baleada.

Thaís Lima, filha de Cláudia Ferreira da Silva, que foi arrastada por um carro da PM na manhã desta domingo (16) após ser atingida por uma bala perdida no Morro da Congonha, em Madureira, no Subúrbio do Rio, disse que os policais que estavam no local acharam que Cláudia tivesse envolvimento com o tráfico de drogas. Thaís foi ao estúdio do Bom Dia Rio na manhã desta terça-feira (18) para contar como tudo aconteceu. Ela disse que não acredita na Polícia Militar.

“Eu não acredito na polícia. Eles [os policais] deram dois tiros e falaram que se assustaram com o copo que estava na mão dela. Mas eles não estavam querendo prestar socorro nenhum, eles estavam achando que ela era bandida, que ela estava dando café para os bandidos”, disse.

A filha da vítima contou que trocas de tiros são comuns no Morro do Congonha, mas que o episódio que tirou a vida de sua mãe foi atípico, já que, segundo ela, não houve confronto com traficantes e os policiais militares teriam chegado na comunidade atirando.

“Lá é quase sempre assim, mas dessa vez ninguém entendeu nada a atitude deles, de chegar atirando assim, na rua. Não teve troca de tiros. A gente tentou evitar que levassem ela [Cláudia] e eles [os policiais] deram tiros para o alto para afastar as pessoas”, explicou.

Thaís comentou também a diferença de postura no socorro da sua mãe e de um outro baleado na mesma situação. Segundo ela, o corpo do homem atingido na troca de tiros permaneceu no local esperando a perícia, enquanto Cláudia foi levada para o hospital.

“Se matou ela, como se fosse bandida, porque deixaram o outro na rua? O corpo dele ficou lá, esperando a perícia”, questionou ela, que disse querer justiça na resolução do caso que matou sua mãe. “Eu quero justiça e que eles paguem o que eles fizeram com a minha mãe”, finalizou.

Beltrame repudia conduta dos PMs
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse por meio de nota nesta segunda-feira (17) que repudiou a conduta dos policiais que fizeram o resgate da auxiliar de serviços gerais Claudia Ferreira da Silva, Ele informou que, além do inquérito Policial Militar instaurado, a Polícia Civil também investiga o caso.

Os subtenentes Adir Serrano Machado e Rodney Miguel Archanjo, e o sargento Alex Sandro da Silva Alves, foram presos em flagrante e serão julgados pela Auditoria de Justiça Militar após a conclusão do Inquérito Policial Militar (IPM), que tem prazo de 30 dias para ser finalizado. O resultado da perícia realizada pelo Centro de Criminalística da PM será anexado ao documento. Eles serão encaminhados a Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste, após o término dos depoimentos.

A Polícia Militar informou, em nota, que a conduta de levar a vítima no porta-malas não condiz com as orientações do curso de formação da corporação. Segundo a PM, o procedimento correto quando há possibilidade de socorro para baleados é instalar a vítima no banco traseiro do veículo.

Testemunhas contaram que Cláudia foi colocada no porta-malas do carro da polícia para ser levada ao hospital. No entanto, durante o trajeto, o porta-malas abriu e a auxiliar de serviços caiu, sendo arrastada pela rua.

Moradores da comunidade também acusam os policiais que participaram da ação de armar um falso flagrante. Segundo relatos, os PMs teriam plantado armas ao lado do corpo do segundo suspeito morto na operação. No domingo e nesta segunda-feira, moradores de Madureira fizeram manifestações contra a morte de Cláudia.

PMs afastados
“Lamentamos muito a forma como a senhora Cláudia foi socorrida, é uma forma que nós não toleramos. A corporação não compactua com isso. Por essa razão, eles estão sendo autuados e serão conduzidos à unidade prisional”, afirmou o relações-públicas da PM, tenente-coronel Cláudio Costa em entrevista à GloboNews. “O ideal era que ela fosse no banco de trás, amparada por um policial. O que não aconteceu”, acrescentou Costa, referindo-se à forma como a vítima foi socorrida.

O jornal Extra publicou nesta segunda-feira o vídeo feito por um cinegrafista amador que mostra a mulher sendo arrastada por cerca de 250 metros.

Cláudia teria ficado pendurada no para-choque do veículo apenas por um pedaço de roupa. “Minha filha contou que ela ia comprar R$ 3 de pão e R$ 3 de mortadela, mas não deu tempo de chegar”, disse o marido de Cláudia, que preferiu não ser identificado por questões de segurança.

Resposta da PM
Em nota, a PM disse que Cláudia da Silva Ferreira foi colocada no porta-malas do carro e no caminho do hospital a porta se abriu. Foi nesse momento que parte do corpo da moradora acabou sendo arrastado pela rua, provocando mais ferimentos. O comando da PM afirmou que este tipo de conduta não condiz com um dos principais valores da corporação que é a preservação da vida e da dignidade humana.

A Polícia Militar informou ainda que os policiais encontraram Cláudia já baleada no alto do morro. Ela ainda foi levada para o Hospital Estadual Carlos Chagas, mas não resistiu.

Segundo a PM, na operação em Madureira, um traficante foi morto e outro foi ferido e preso. Os policiais apreenderam quatro pistolas, rádios e drogas na comunidade. A Polícia Civil vai investigar de onde partiram os tiros.

Para a família, a dor se mistura à indignação. “A sensação é que no morro, na favela, só mora bandido, marginal. Insegurança, somos tratados como animais”, diz um amigo de Cláudia.

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