Meninas de comunidades pobres do Recife desfilam atrás de sonhos

Garotas escolhidas em Brasília Teimosa e Pilar são exemplos na passarela.

Projeto ‘Moda na Rua’ foi lançado no domingo (30) e terá outras edições.

Meninas de bairros pobres da capital pernambucana pisaram pela primeira vez em uma passarela durante o lançamento do projeto Moda na Rua, no último domingo (30), dentro da programação do Recife Antigo de Coração, no Centro da cidade. A experiência foi completa: roupas de estilistas, maquiagem, penteado, plateia, trilha sonora ao vivo, “carão” e até aquela viradinha básica do salto alto.

Muitas gostaram tanto de modelar que agora pensam seguir carreira. Outras aproveitaram um dia diferente na dura rotina.

Vinte meninas das comunidades do Pilar, na área central, e de Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife, foram escolhidas por meio de uma seleção feita por profissionais ligados ao projeto. “Fomos aos locais e divulgamos a seleção em carros de som, nas escolas, por líderes comunitários. A ideia é mesmo descobrir novos talentos.

Eu não esperava, mas pelo menos 12 delas têm vocação mesmo para ser modelo ou manequim”, disse o coreógrafo Christian Douglas, que participou do processo seletivo.

Juliane Alves, 20 anos, foi uma das selecionadas em Brasília Teimosa. Durante a semana, acorda cedo para levar o filho de quatro anos à escola. Depois, volta para ajudar a mãe nas tarefas domésticas e cuidar do filho mais novo, com 11 meses. À tarde, trabalha na bilheteria de uma rede de cinema e, quando larga, vai direto para a escola. “Até me acho bonita, mas achei que não me escolheriam porque não tenho preparo. Foi uma emoção grande desfilar, mas já decidi que quero ser estilista”, disse.

Já Kérolly Libanio, 17 anos, quer mesmo seguir a carreira de modelo. Ela também mora em Brasília Teimosa e foi uma professora da escola onde estuda que a avisou sobre a seleção. “Eu já tinha desfilado em um evento parecido. Acho que levo jeito e sou magra.

Aprendi que a gente tem que entrar na passarela e dominar, fazer carão. Acho que meu forte é o olhar”, disse. Como afirma não ter condições financeiras de fazer hoje um bom book, a jovem disse vai estudar este ano para fazer vestibular de ciências sociais ou moda e vai aproveitando outras oportunidades semelhantes.

O coreógrafo acredita que Kérolly tem chance de seguir carreira nacional. Em 2012, ele trabalhou na equipe do Menina Fantástica, concurso de modelo do programa Fantástico, da Rede Globo, e confia no instinto dele. “Outra coisa bem legal desse projeto nas comunidades é o viés social, porque abre oportunidades para as jovens, e também o trabalho psicológico. Tinham garotas com a autoestima lá embaixo e hoje estão lindas, felizes”, comentou.

Uma delas era a estudante Jacqueline Nascimento, 16 anos. “Eu achava que não tinha chance, porque não era a pessoa ideal, ‘bonitona’, magrinha, que quando entra em um local chama atenção”, lembrou. Após o treinamento e a estreia na passarela, a adolescente irradiava alegria e orgulho. “Durante o curso, eu até pensei em desistir por conta de problemas em casa, mas recebi apoio da minha mãe e, agora, só depende de mim para virar modelo”, apontou.

Esse virou o sonho também da estudante Thaysa Sena, 14 anos, que mora no Pilar. “Eu achei tão legal hoje, me diverti. Gostei do meu penteado e até usaria assim na rua. Eu quero ser modelo e, se eu ganhar dinheiro, eu posso ajudar várias pessoas lá no bairro”, disse. Como parte do projeto, as jovens receberão orientação de passarela e etiqueta na Faculdade Senac. A cada mês, a seleção será feita em uma comunidade diferente do Recife.

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