Remoção de tubarões reduz em 95% risco de ataques no Recife, diz Cemit

‘Escudo’ com 200 anzóis intercepta tubarões antes que cheguem à praia.

Meta é diminuir a taxa de 20% de mortalidade dos animais após captura.

O trabalho de captura e remoção de tubarões no Grande Recife reduziu em 95% o risco de ataques, desde que a pesquisa foi iniciada pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), em 2004. A razão é que os animais pegos na orla e soltos em alto-mar acabam migrando para outro local. A conclusão foi apresentada nesta terça-feira (1°), durante workshop internacional na Universidade Rural Federal de Pernambuco (UFRPE). A meta agora é reduzir a zero os ataques e a mortalidade dos animais após a pesca, que atualmente gira em torno dos 20% e é considerada alta pelos pesquisadores.

O sistema é operado por cerca de 30 pessoas, lideradas pelo coordenador do trabalho de pesquisa e monitoramento do Cemit, Fábio Hazin. O programa custa R$ 1,5 milhão ao ano. Uma espécie de “escudo” com 200 anzóis intercepta os tubarões antes que eles cheguem à praia. Em viagens com o barco Sinuelo, a equipe captura os animais e seleciona os que serão removidos, marcados e soltados em alto-mar. A estimativa é de que, até hoje, foram capturados 200 e removidos, 40

Os animais são levados para o mais longe possível, mas nunca numa profundidade menor que 20 metros. De acordo com Hazin, a pesquisa concluiu que todos os tubarões removidos viajam para o alto-mar e seguem correntes marinhas. “A grande maioria, cerca de 80%, dos tubarões tigre marcados migraram para o norte. Apenas um voltou para a costa logo após a soltura”, afirmou.

Desde que foi iniciada, em 2004, a pesquisa passou por fases distintas. Foram testados, por exemplo, os anzóis mais adequados. “Quando testamos os [anzóis] circulares, vimos que eles garantiam um grau de sobrevivência maior dos tubarões, o que permitiu à equipe não sacrificar mais os animais e, assim, passamos a usar a estratégia de capturar, transportar, marcar e soltar. Esse trabalho de pesquisa e monitoramento permitiu a construção de um sistema eficiente para a redução dos ataques e menos impactante para o sistema marinho”, disse Hazin.

O pesquisador informou que os esforços agora estão focados em levar a zero a taxa de mortalidade dos tubarões. “Estamos usando um equipamento que flagra o momento exato da captura do tubarão, exames de sangue para identificar parâmetros que indiquem o nível de estresse do animal, para tentarmos, utilizando mecanismos como uso de oxigênio na água de ventilação e alteração no processo de lançamento e recolhimento do espinhel, reduzir ainda mais essas taxas de mortalidade”, explicou.

Metas
A intenção também é zerar os ataques de tubarão. “São duas metas impossíveis porque, eventualmente, pode ocorrer morte e ataque. No entanto, nós já atingimos um patamar que é muito melhor do que os alcançados na Austrália e África do Sul, com taxas de redução até três vezes maior e menor impacto ambiental”, apontou. Hazin explica que as metas são “impossíveis” porque os atques estão associados ao ciclo migratório do tubarão tigre.

O Cemit foir criado em 2004 pelo governo estadual, no âmbito da Secretaria de Defesa Social, com a coordenação da UFRPE. A ideia era buscar expertise na África do Sul e na Austrália para, entre outras ações, pesquisar e monitorar os animais.

Causas
Para o comitê, uma das principais causas dos ataques foi a construção do Porto de Suape, no Litoral Sul do estado, que impactou o ecossistema local e provavelmente deslocou a população de tubarões da espécie cabeça-chata para o norte. Seguindo as correntes, eles passaram a ser atraídos para a costa devido ao tráfego marítimo e à atividade portuária.

Outra causa é a presença de um canal profundo perto da costa. “Não há solução viável para acabar definitivamente com o problema, a não ser que fechemos o Porto de Suape, aterremos o canal ou que levemos os tubarões tigre à extinção no Atlântico Sul. Temos que aprender a conviver de forma harmônica com animais, respeitando o ecossistema marinho, pois eles são as maiores vítimas de um problema causado por nós mesmos”, comentou Hazin.

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