Governo e oposição sírios trocam acusações em negociação de paz

Kerry e oposição pediram saída de Assad; governo denunciou ‘terrorismo’.

Encontro diplomático tenta encerrar guerra civil que matou mais de 130 mil.

Representantes do governo do presidente Bashar al-Assad e da oposição síria no exílio trocaram acusações nesta quarta-feira (22), no início da conferência de paz de Genebra 2, que tenta uma difícil solução política para a guerra civil que devasta o país há três anos.

O ministro de Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, falando em nome do contestado regime de Assad, disse que o país vai fazer “o que for necessário” para se defender da maneira que achar apropriada. Ele afirmou que a guerra civil “não vai parar na Síria”, mas vai afetar todos os países vizinhos.

Em um longo discurso, ele pediu às potências internacionais que parem de “apoiar o terrorismo” e removam as sanções contra Damasco.

O chanceler afirmou que ninguém pode contestar a legitimidade do governo de Assad, a não ser o próprio povo sírio.
Moualem acusou os membros da oposição de serem “traidores” e agentes estrangeiros.

“Eles dizem representar o povo sírio. Se vocês quiserem falar em nome do povo sírio, vocês não devem ser traidores do povo sírio, agentes a mando dos inimigos do povo sírio”, disse.

Comparação com nazismo
Falando depois, o líder oposicionista sírio Ahmad Jarba comparou as fotos de torturas de presos, supostamente feitas pelas forças do governo, a crimes semelhantes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

“As imagens de tortura são sem precedentes, exceto nos campos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial”, disse.

Jarba disse que o presidente Assad era responsável por crimes contra a humanidade no país devastado pela guerra e disse que não existe negociação possível enquanto ele estiver no poder.

“Peço (para a delegação do regime) que assine imediatamente o documento de Genebra 1 (que prevê) a transferência das prerrogativas de Assad, incluindo as do Exército e da segurança, a um governo de transição”, afirmou Jarba.

Transição sem Assad
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, voltou a defender a posição americana de uma transição política sem Assad no país.

“Precisamos lidar com a realidade aqui… consentimento mútuo, que é o que nos trouxe até aqui para um governo de transição, significa que o governo não pode ser formado por alguém que é contestado por um lado”, declarou Kerry na abertura.

“Isso significa que Bashar al-Assad não fará parte desse governo de transição. Não há nenhuma maneira, não é possível imaginar, que o homem que liderou esta resposta brutal contra seu próprio povo possa recuperar a legitimidade para governar”, disse.

Kerry disse que a negociação de paz entre representantes do regime sírio e da oposição exilada vai ser “dura e complicada”.

Oportunidade histórica
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, disse que as negociações não serão simples ou rápidas, mas a realização de uma conferência de paz representa uma oportunidade históricav.

“As negociações não serão simples, nem serão rápidas”, declarou Lavrov no início da conferência Genebra II na localidade suíça de Montreux. “Há uma responsabilidade histórica sobre os ombros de todos os participantes”, declarou aos representantes das partes beligerantes da Síria e de outros 40 países.

“Nosso objetivo comum é conseguir colocar fim ao trágico conflito na Síria’, declarou o chefe da diplomacia russa, que também denunciou a presença de ‘extremistas provenientes de todo o mundo, que semeiam o caos na Síria e reduzem a nada os cimentos culturais e democráticos do país, formados durante centenas de anos”.

“A conferência nos dá uma verdadeira oportunidade, embora não seja de 100%, de concluir a paz”, considerou.

“Novo começo”
O encontro começou com um discurso de Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, que promove a conferência.

Ban apelou para que as partes em guerra tentem “um novo começo”.
“Esta conferência é a sua oportunidade de… mostrar unidade”, disse.
Segundo o chefe da ONU, há grandes desafios para que se chegue um acordo, mas eles não são intransponíveis.

Ban apelou para que as partes permitam o acesso imediato da ajuda humanitária, principalmente às regiões do país que estão sob cerco.

“Atores externos”
Já o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, apelou para que “atores externos” não se intrometam no que chamou de “assuntos internos” da Síria.

Lavrov disse que a oposição política interna deveria ser parte do diálogo nacional sírio, e que o Irã, não presente nas negociações, deveria ser parte do diálogo internacional.

Ele disse que o principal objetivo da conferência é “alcançar um fim para o conflito trágico” e impedir uma disseminação dele para outros países da região.

O ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, pediu um cessar-fogo imediato no país e a abertura de corredores para a chegada de ajuda humanitária.

Do G1

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