Morre aos 85 anos o ex-premiê israelense Ariel Sharon

Ex-militar estava em estado vegetativo desde janeiro de 2006.
Ele teve piora do quadro clínico nas últimas semanas

O ex-premiê israelense Ariel Sharon morrreu neste sábado (11), aos 85 anos, em Tel Aviv, segundo o hospital em que ele estava internado.

O quadro de saúde do ex-premiê vinha apresentando uma piora acentuada desde o início do ano.

Segundo os médicos, ele apresentava uma insuficiência renal que afetou outros órgãos vitais.

Os dois filhos de Sharon estavam no hospital, segundo médicos, e um funeral de estado já está sendo programado.

Ex-general e líder da direita, Sharon está em condição vegetativa desde o derrame que sofreu em janeiro de 2006, quando ainda comandava o governo.

Trajetória
Ex-general e líder da direita, com fama de “falcão”, Sharon era um personagem impetuoso e tenaz, com físico imponente e humor mordaz, pouco cuidadoso com o financiamento das campanhas eleitorais.

Ele surpreendeu e colocou sob suspeita o sonho do “Grande Israel” ao executar, como primeiro-ministro, a saída militar israelense do território palestino da Faixa de Gaza em 2005, de maneira unilateral, após 38 anos de ocupação.

Antes de revolucionar o panorama político israelense, foi o braço direito do fundador histórico da direita nacionalista, Menahem Begin, que chegou ao poder em 1977.

Sharon foi casado duas vezes e teve três filhos. Seu primeiro casamento, com Margalit, de origem romena, aconteceu em 1953. Ela morreu em 1962 em um acidente de carro. Em 1967, o único filho dos dois, Gur, morreu em um acidente com uma arma.

No ano seguinte, ele se casou com Lily, irmã de Margalit. Os dois tiveram dois filhos – Gilad e Omri. Lily morreu em 2000 em decorrência de um câncer de pulmão.

Um dos filhos de Sharon, Omri, seguiu os passos do pai na política e já foi membro do Parlamento Israelense.

Carreira militar
Sharon – cujo nome de batismo era Ariel Scheinermann – nasceu em Kfar Malal, nos territórios palestinos, em 27 de fevereiro de 1928, quando a região ainda estava sob domínio britânico. Sua família era procedente de Belarus.

Sharon ingressou ainda jovem na organização militar judaica Haganah, aos 17 anos, tornando-se comandante de unidade na Guerra Árabe-Israelense (1948-1949).

Ele lutou desde a criação do Estado, em 1948, obtendo uma reputação de soldado destemido, ficando conhecido por sua atuação dura e pela recusa ocasional em receber ordens. Ficou ferido em combate duas vezes.

À frente da unidade 101 dos comandos e depois das unidades de paraquedistas, liderou as chamadas “operações de punição”, a mais violenta das quais terminou em 1953 com a morte de quase 60 civis na localidade palestina de Kibia.

Ele liderou ainda uma tropa paraquedista durante a Guerra de Suez, em 1956, passando ao posto de general na época.

Em 1969, Sharon debilitou por muito tempo a resistência em Gaza com operações dos comandos, o que o tornou uma figura odiada pelos palestinos.

Durante a guerra de outubro de 1973, voltou a demonstrar suas capacidades militares ao atravessar o canal de Suez e cercar o exército egípcio com uma manobra ousada.

Política
Como político, ganhou o apelido de “Bulldozer” (escavadeira), por ser duro com seus adversários e ser capaz de levar seus projetos até o fim.

Eleito no fim de 1973 para o Parlamento israelense (Knesset)  por um novo partido do qual era membro fundador, o direitista Likud, renunciou no ano seguinte para atuar como conselheiro de segurança de Yitzhak Rabin, então primeiro-ministro.

Foi reeleito para o Parlamento em 1977 e apontado ministro da Defesa por Menachem Begin em 1981.

Em 1982, sem informar oficialmente ao primeiro-ministro Begin, do qual era considerado um “braço direito”, enviou as Forças Armadas israelenses para Beirute, finalizando a expulsão da Organização pela Libertação da Palestina do Líbano.

A ação – uma interminável e desastrosa invasão do Líbano para tentar expulsar Yasser Arafat, o dirigente histórico palestino – resultou na morte de centenas de palestinos nas mãos de milícias cristãs aliadas de Israel, em dois campos de refugiados em Beirute que estavam sobre controle israelense. Os incidentes ficaram conhecidos como os massacres de Sabra e Shatila.

Uma investigação oficial o declarou culpado de não ter previsto nem impedido os massacres. Ele teve que renunciar ao cargo em 1983.

Em 28 de setembro de 2000, sua visita à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém Oriental, terceiro local sagrado islã, provocou indignação. No dia seguinte explodiu a segunda Intifada – revolta civil dos palestinos contra a ocupação israelense.

Mas Sharon considerou a situação apenas uma pequena batalha de uma “guerra de 100 anos” contra o sionismo e Israel. Com a promessa linha-dura de esmagar a revolta palestina, foi eleito de maneira triunfal primeiro-ministro em 6 de fevereiro de 2001 e reeleito em 28 de janeiro de 2003.

Fervoroso partidário da colonização israelense dos territórios palestinos, em 2005 ele surpreendentemente organizou a retirada de Gaza e o desmantelamento das colônias instaladas na região, após um controle militar de 38 anos no território.

Até então, ninguém havia se atrevido a tocar na política de colonização para desmantelar assentamentos.

O mais surpreendente foi a decisão ter partido daquele que foi o paladino da colonização. Mas Sharon concluiu que Israel tinha que renunciar a manter todos os territórios conquistados na guerra de 1967 se desejava continuar sendo um “Estado judeu e democrático”.

Algumas decisões provocaram o ódio dos palestinos, a irritação da comunidade internacional e muitas críticas em Israel. Mas, com a retirada de Gaza, foi elogiado.

Depois dela, Sharon deixou o Likud e estabeleceu o partido Kadima, de centro. Ao mesmo tempo, planejava novas retiradas israelenses da Cisjordânia.

Ele parecia caminhar para uma reeleição fácil quando sofreu o derrame em 4 de janeiro de 2006 e foi afastado do cargo. Representantes do movimento palestino Hamas disseram, à época, que a doença era um “sinal de Alá”.

Sharon foi substituído por seu vice, Ehud Olmert, eleito premiê poucos meses depois.
Pouco depois de seu derrame, o homem forte de Israel passou a cair no esquecimento, preso a uma cama de hospital e velado pela família. Seu nome era citado apenas de maneira esporádica pela imprensa local.

Do G1

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