Torcedores denunciados por brigas em estádios continuam soltos

Em 2009,14 torcedores foram denunciados pela invasão de campo em Curitiba. Ninguém está preso e os processos continuam na Justiça.

Imagens gravadas por câmeras de segurança no Recife mostram brigas violentas entre torcidas organizadas. E levaram à prisão de dois homens, nessa sexta-feira.

É o capítulo mais recente de uma rotina de violência no futebol. Também no Recife, outra história deixou o Brasil perplexo.

“Eu chorava, quando eu via na televisão, as dores de outras mães e, hoje, eu choro a dor, sentindo na pele a perda do meu filho”, desabafa a dona de casa Joelma da Silva.

“Tem que dar um basta nessa violência, porque é em todo o Brasil e está manchando até o nome do nosso país”, pede José Paulo Ramos.

O filho de Seu José e Dona Joelma morreu no Estádio do Arruda, no Recife, no dia 2 de maio. Torcedor do Sport, Paulo Ricardo tinha ido a um jogo do rival Santa Cruz. Na saída, dois vasos sanitários foram jogados do alto da arquibancada e atingiram quatro pessoas. Entre elas, Paulo Ricardo.

Três homens foram presos e confessaram ter arremessado os vasos sanitários em cima dos torcedores.

Os três homens foram denunciados pelo Ministério Público de Pernambuco pelo homicídio de Paulo Ricardo e por tentativa de homicídio contra os outros torcedores que também ficaram feridos. Para a polícia, e até para ex-integrantes de torcidas organizadas, Paulo Ricardo morreu por causa da impunidade no futebol.

“Já houve, em anos anteriores, casos de eles jogarem privada, extintor de incêndio em policiais, também tentando atingir torcedores de torcidas rivais”, lembra o delegado José Silvestre.

Um torcedor prefere não mostrar o rosto: “A culpa é do marginal. Mas a culpa também é da impunidade, porque se tivesse punido aquele cara que jogou um vaso e não machucou ninguém, ninguém mais iria jogar”.

“Ele tem que ter medo de ser preso. Porque o respeito já se perdeu faz muito tempo”, comenta o delegado

Em 2009, Curitiba, a invasão de campo lembrada pelo Fred na reunião do Fantástico. Quatorze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público. Ninguém está preso. Os processos continuam na Justiça.

2013, Joinville, em Santa Catarina. Vinte e cinco pessoas foram presas depois da briga entre as torcidas de Atlético-PR e Vasco. Todas estão soltas e ainda vão a julgamento.

Fevereiro de 2014. Cerca de 100 pessoas invadiram o centro de treinamento do Corinthians, não encontraram os jogadores, mas roubaram e agrediram funcionários. Os três detidos foram soltos duas semanas depois.

“As leis existem. O que falta é a punição, é a aplicação da lei e a redução da impunidade”, afirma o sociólogo Maurício Murad.

O sociólogo Maurício Murad é um dos maiores estudiosos da violência no futebol. “A violência nos estádios está ligada a setores, vândalos, delinquentes, que estão infiltrados nas torcidas organizadas. São setores minoritários, mas violentos. Há muito alcoolismo, tráfico de drogas e armamentos”, aponta.

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