Ao STF, defesa cita Jesus e Judas e diz que Azeredo teria sido traído
Réu em ação penal do mensalão tucano apresentou defesa final ao STF.
Segundo defesa, ex-deputado desconhecia irregularidades em campanha.
Na defesa final entregue nesta quinta-feira (27) ao Supremo Tribunal Federal, o ex-deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), réu na ação penal do mensalão tucano, cita Jesus e Judas ao afirmar que não teve ciência de supostos crimes cometidos em sua campanha à reeleição para governador de Minas Gerais em 1998.
Ele é acusado de desviar recursos públicos para angariar dinheiro para sua disputa eleitoral. De acordo com a defesa, Azeredo estava ocupado com a gestão do estado e não tinha tempo para cuidar pessoalmente da campanha. Por isso, teria outorgado uma procuração dando amplos poderes para que Claudio Roberto Mourão Carvalho, um de seus secretários na época, administrasse financeiramente a campanha.
Conforme as alegações finais de Azeredo, os supostos empréstimos fraudulentos e desvios de recursos denunciados pelo Ministério Público Federal teriam sido cometidos pelo secretário sem que o então governador tivesse ciência dos delitos.
O G1 tentou contato por telefone e por e-mail com o advogado de Mourão, mas não conseguiu.
“Denúncia e alegações finais acentuam que Claudio Mourão era homem de extrema confiança de Eduardo Azeredo. Para ficar apenas na era cristã, lembre-se de Jesus e Judas. A quebra de confiança, lamentavelmente, é da índole humana”, diz o documento protocolado no STF e assinado pelo advogado Gerardo Grossi.
De acordo com a defesa, o funcionário de Azeredo obteve com Marcos Valério, condenado como operador do mensalão do PT e também acusado no mensalão tucano, empréstimos de cerca R$ 2 milhões na época da disputa eleitoral.
A defesa nega que Azeredo tivesse ciência desse fato e argumenta que o ex-governador está sendo acusado somente porque sua campanha à reeleição teria utilizado parte dos recursos obtidos por Claudio Mourão.
“Todos os empréstimos feitos no curso da campanha têm uma coisa em comum: a anuência de Eduardo Azeredo não figura em qualquer deles.
Como se disse e se repete, Eduardo confiava a administração das finanças a Claudio Mourão. Não teve, durante a campanha, notícia sequer do que se passava.”
As alegações finais da defesa estão no gabinete do relator da ação penal, ministro Luís Roberto Barroso. A Procuradoria Geral da República recomendou ao Supremo que o ex-parlamentar tucano seja condenado a 22 anos de prisão.
Na semana passada, Azeredo renunciou ao cargo de deputado federal. Como o STF só pode julgar agentes públicos quem têm foro privilegiado, a Corte deverá decidir se analisa o caso ou se envia o processo para a primeira instância, na Justiça Federal de Minas Gerais, onde já respondem outros acusados de participação no mensalão tucano.
Barroso informou que submeterá ao plenário da Suprema Corte a decisão de manter ou não o processo no tribunal. Como Azeredo renunciou ao mandato quando a ação penal estava próxima de ser julgada, o STF deverá analisar se a decisão de deixar o cargo de deputado foi uma “manobra” da defesa para tentar postergar o julgamento.