Câncer de mama – A doença que mais mata mulheres no país, foi o tema de hoje no Debate das Dez
Recife sediou um dos maiores eventos de oncologia do país para discutir novos rumos no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento do Câncer de Mama no Brasil. Com a presença de renomados pesquisadores dos maiores centros de tratamento e estudo da doença no atual cenário mundial, o II Recife Breast Cancer Symposium aconteceu no dia 22 de março, no JCPM Trade Center.
Um dos destaques trazidos no Simpósio se dá na mudança de paradigmas quanto aos atuais tratamentos de pacientes com uso da quimioterapia. Através de novas pesquisas sobre a temática, baseadas no mapeamento genético de cada paciente, o processo quimioterápico passa a ser reanalisado e, em muitos casos, contra indicado. O medicamento Everolimus, por exemplo, vem sendo uma revolução no tratamento de doença metastática (já espalhada no corpo) de mulheres e homens com tumores na mama que expressam receptores hormonais (estrógeno e progesterona). O seu uso prolongado, antes de cirurgia para retirada de tumor, já resulta em 50% dos casos o desaparecimento total desse tumor.
Hoje no Debate das Dez, o mastologista Dr. Roberto Vicente que participou do simpósio, falou sobre suas impressões do evento, os avanços no combate e prevenção do câncer. Dr. Roberto também aproveitou para esclarecer dúvidas dos ouvintes e internauta.
Dr. Roberto Vicente disse que o câncer de mama é a doença que mais mata mulheres no Brasil.
“Causa-me grande preocupação, tanto pra mim, como para todos os mastologistas, é essa determinação do Ministério da Saúde de só liberar a mamografia a partir dos 50 anos, infelizmente. Realmente pela estatística a maior incidência do câncer de mama é nessa faixa etária, porém eu só neste ano eu já vou operando em torno de seis a sete pacientes que infelizmente tiveram câncer de mama avançado e se eu não me engano três delas tinham menos de 40 anos”, relatou Dr. Roberto.
Dr. Roberto disse também que o Ministério da Saúde está começando a liberar algumas medicações que na Europa já é de uso corriqueiro. Dr. Roberto disse também que tem havido avanços no tratamento e que Recife tem sido um polo de muita importância.
Dr. Roberto disse que o medo que a população tem da doença atrapalha muito e deu como exemplo pessoas que sentem um caroço ou algum sintoma estranho e já pensa logo que tem um câncer e fica com medo de ir ao médico e ter o diagnóstico positivo.
Em relação ao tratamento do câncer na rede pública, comparado à rede privada, Dr. Roberto disse que não está muito distante e deu como exemplo o Hospital do Câncer em Recife, dizendo que o mesmo oferece o que tem de melhor no país.
Dr. Roberto disse que se entristece é com a saúde pública como um todo e desabafou:
“Me dá até tristeza de falar isso, mas o governo não investe na saúde, todo dia a gente vê na televisão, deputado andando em avião com a família, gastando dinheiro do governo e mais e mais quadrilhas se formando ai, roubando dinheiro, botando dinheiro na cueca e várias outras barbaridades. Hoje mesmo eu vi em uma reportagem, no hospital do Piauí, um idoso morreu esperando atendimento, se o governo olhasse realmente para a população carente, investia nos hospitais”.
Dr. Roberto relatou que esse inclusive foi um dos motivos por ele ter se afastado da política.
Segundo pesquisa feita paralelamente ao Debate, o câncer, principalmente o de mama por parte das mulheres é a doença mais temida.
Ouça abaixo o Debate na íntegra:
Fique sabendo
Segundo tipo mais frequente no mundo, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano. Se diagnosticado e tratado oportunamente, o prognóstico é relativamente bom.
No Brasil, as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas, muito provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estágios avançados. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de 61%.
Relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Estatísticas indicam aumento de sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes.
Estimativa de novos casos: 57.120 (2014 – INCA)
Número de mortes: 13.345, sendo 120 homens e 13.225 mulheres (2011 – SIM).
Prevenção
Evitar a obesidade, através de dieta equilibrada e prática regular de exercícios físicos, é uma recomendação básica para prevenir o câncer de mama, já que o excesso de peso aumenta o risco de desenvolver a doença. A ingestão de álcool, mesmo em quantidade moderada, é contra-indicada, pois é fator de risco para esse tipo de tumor, assim como a exposição a radiações ionizantes em idade inferior aos 35 anos.
Ainda não há certeza da associação do uso de pílulas anticoncepcionais com o aumento do risco para o câncer de mama. Podem estar mais predispostas a ter a doença mulheres que usaram contraceptivos orais de dosagens elevadas de estrogênio, que fizeram uso da medicação por longo período e as que usaram anticoncepcional em idade precoce, antes da primeira gravidez.
A prevenção primária dessa neoplasia ainda não é totalmente possível devido à variação dos fatores de risco e as características genéticas que estão envolvidas na sua etiologia.
Autoexame das Mamas
O INCA não estimula o autoexame das mamas como método isolado de detecção precoce do câncer de mama. A recomendação é que o exame das mamas pela própria mulher faça parte das ações de educação para a saúde que contemplem o conhecimento do próprio corpo.
Evidências científicas sugerem que o autoexame das mamas não é eficiente para a detecção precoce e não contribui para a redução da mortalidade por câncer de mama. Além disso, traz consequências negativas, como aumento do número de biópsias de lesões benignas, falsa sensação de segurança nos exames falsamente negativos e impacto psicológico negativo nos exames falsamente positivos.
Portanto, o exame das mamas feito pela própria mulher não substitui o exame físico realizado por profissional de saúde (médico ou enfermeiro) qualificado para essa atividade.
Sintomas
Podem surgir alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou retrações, inclusive no mamilo, ou aspecto semelhante a casca de laranja. Secreção no mamilo também é um sinal de alerta. O sintoma do câncer palpável é o nódulo (caroço) no seio, acompanhado ou não de dor mamária. Podem também surgir nódulos palpáveis na axila.
Detecção Precoce
Embora a hereditariedade seja responsável por apenas 10% do total de casos, mulheres com história familiar de câncer de mama, especialmente se uma ou mais parentes de primeiro grau (mãe ou irmãs) foram acometidas antes dos 50 anos, apresentam maior risco de desenvolver a doença.
Esse grupo deve ser acompanhado por médico a partir dos 35 anos. É o profissional de saúde quem vai decidir quais exames a paciente deverá fazer. Primeira menstruação precoce, menopausa tardia (após os 50 anos), primeira gravidez após os 30 anos e não ter tido filhos também constituem fatores de risco para o câncer de mama.
Mulheres que se encaixem nesses perfis também devem buscar orientação médica. As formas mais eficazes para a detecção precoce do câncer de mama são o exame clínico e a mamografia.
Exame Clínico das Mamas (ECM)
Quando realizado por um médico ou enfermeira treinados, pode detectar tumor de até 1 (um) centímetro, se superficial. Deve ser feito uma vez por ano pelas mulheres a partir de 40 anos.
Mamografia
A mamografia (radiografia da mama) permite a detecção precoce do câncer, ao mostrar lesões em fase inicial, muito pequenas (medindo milímetros). Deve ser realizada a cada dois anos por mulheres entre 50 e 69 anos, ou segundo recomendação médica.
É realizada em um aparelho de raio X apropriado, chamado mamógrafo. Nele, a mama é comprimida de forma a fornecer melhores imagens, e, portanto, melhor capacidade de diagnóstico. O desconforto provocado é suportável.
Lei 11.664, de 2008
Ao estabelecer que todas as mulheres têm direito à mamografia a partir dos 40 anos, a Lei 11.664/2008 que entrou em vigor em 29 de abril de 2009 reafirma o que já é estabelecido pelos princípios do Sistema Único de Saúde. Embora tenha suscitado interpretações divergentes, o texto não altera as recomendações de faixa etária para rastreamento de mulheres saudáveis: dos 50 aos 69 anos.