Chikungunya tem sintomas parecidos com dengue; conheça a doença

Infecção provoca febre repentina e intensas dores nas articulações.
Vírus já existe no Brasil e é transmitido por mosquitos.

Vírus chikungunya pode ser transmitido por dois tipos de mosquitos: o 'Aedes aegypti' (no alto) e o 'Aedes albopictus' (Foto: Douglas Aby Saber/ Fotoarena-AFP Photo/ EID Mediterranee)
Vírus chikungunya pode ser transmitido por dois
tipos de mosquitos: o ‘Aedes aegypti’ (no alto) e o
‘Aedes albopictus’ (Foto: Douglas Aby Saber/
Fotoarena-AFP Photo/ EID Mediterranee)

A infecção pelo vírus chikungunya provoca sintomas parecidos com a dengue, porém mais dolorosos. No idioma africano makonde, o nome chikungunya significa “aqueles que se dobram”, referência à postura que os pacientes adotam diante das penosas dores articulares que provoca. Em compensação, comparado com a dengue, o novo vírus é menos letal.

Este ano, já houve 20 casos da infecção notificados no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Mas, até o momento, todos são importados: 19 pacientes contraíram a infecção no Haiti e um na República Dominicana. Saiba mais detalhes sobre a doença:

Transmissão
Por ser transmitido pelo mesmo vetor que a dengue, o mosquito Aedes aegypti, e também pelo mosquito Aedes albopictus, a infecção pelo chikungunya segue os mesmos padrões sazonais da dengue, de acordo com o infectologista Pedro Tauil, do Comitê de Doenças Emergentes da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

O risco aumenta, portanto, em épocas de calor e de chuva, mais propícias para a reprodução dos mosquitos. A principal diferença de transmissão em relação à dengue é que o Aedes albopictus também pode ser encontrado em áreas rurais, não apenas nas cidades. Os insetos picam principalmente durante o dia.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o vírus já vinha circulando nos últimos anos pela África e pela Ásia, principalmente na região da Índia. Mais recentemente, também foram identificados casos na Europa. Em dezembro de 2013, o vírus chegou ao Caribe, primeira ocorrência de surto nas Américas.

Sintomas
Entre quatro e oito dias depois da picada do mosquito infectado, o paciente apresenta febre repentina acompanhada de dores nas articulações. Outros sintomas, como dor de cabeça, dor muscular, náusea e manchas avermelhadas na pele, fazem com que o quadro seja parecido com o da dengue. A principal diferença são as intensas dores articulares.

Em média, os sintomas duram entre 10 e 15 dias, desaparecendo em seguida. Em alguns casos, porém, as dores articulares podem permanecer por meses e até anos. De acordo com a OMS, complicações graves não são comuns. Em casos mais raros, há relatos de complicações cardíacas e neurológicas, principalmente em pacientes idosos. Com frequência, os sintomas são tão brandos que a infecção não chega a ser identificada, ou é erroneamente diagnosticada como dengue.

Segundo o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, é importante observar que o chikungunya é “muito menos severo do que a dengue, em termos de produzir casos graves e hospitalização”.

Tratamento
Não há um tratamento capaz de curar a infecção, nem vacinas voltadas para preveni-la. O tratamento é paliativo, com antipiréticos e analgésicos voltados para aliviar os sintomas. Se as dores articulares permanecerem por muito tempo e forem muito dolorosas, uma opção terapêutica é o uso de corticoides.

De acordo com Tauil, os serviços médicos brasileiros já estão preparados para identificar a doença. “Provavelmente quem vai receber esses casos são os reumatologistas. Já escrevemos artigos voltados para esses profissionais, orientando para ficarem atentos a pessoas provenientes de áreas em que há transmissão”, diz. Pessoas que apresentarem esse tipo de sintoma e estiverem voltando de áreas onde existe a transmissão do vírus, como o Caribe, devem comunicar ao médico.

Apesar de haver poucos riscos de formas hemorrágicas da infecção por chikungunya, recomenda-se evitar medicamentos a base de ácido acetilsalicílico (aspirina) nos primeiros dias de sintoma, antes da obtenção do diagnóstico definitivo.

Prevenção
Quanto à prevenção, valem as mesmas regras aplicadas à dengue: ela é feita por meio do controle dos mosquitos que transmitem o vírus. Portanto, evitar água parada, que os mosquitos usam para se reproduzir, é a principal medida. Em casos específicos de surtos, o uso de inseticidas e telas protetoras nas janelas das casas também pode ser aconselhado.

História
O vírus foi identificado pela primeira vez durante uma epidemia na Tanzânia entre 1952 e 1953. Mas casos parecidos com infecções por chikungunya – com febres e dores nas articulações – já tinham sido relatados em 1770.

Na Ásia, o vírus foi detectado pela primeira vez durante um surto na Tailândia em 1960 e, na Índia, durante as décadas de 1960 e 1970. Em 2007, foram identificados os primeiros casos de transmissão na Europa, no norte da Itália.

Em dezembro de 2013, o vírus finalmente chegou à América, quando casos foram identificados na ilha de São Martinho, no Caribe. Atualmente, existe um surto da doença em vários países do Caribe.

No Brasil
Desde maio, foram detectados 20 casos de infecção pelo vírus chikungunya no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Todos foram contraídos em outros países, portanto não há evidências de que o vírus esteja circulando no país.

De acordo com o Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, a maioria dos casos são de pessoas que fazem parte da missão brasileira no Haiti: soldados, missionários e profissionais da saúde. Os pacientes são dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Rio Grande do Sul e Paraná.

Desde o ano passado, quando foram confirmados os primeiros casos no Caribe, o Ministério começou a elaborar um plano de contingência para o vírus. “Existe a possibilidade de transmissão em todo local que tem os mosquitos vetores”, diz Barbosa.

O plano consiste em promover uma redução drástica da população de mosquitos nos arredores de onde os casos são identificados e orientar médicos, assistentes e profissionais dos laboratórios de referência sobre como reconhecer um caso suspeito. Atualmente, seis laboratórios no país são capazes de fazer o teste para detectar o novo vírus.

Em 2010, o Brasil já tinha recebido três casos da doença do exterior: dois surfistas que foram infectados na Indonésia, e uma missionária infectada na Índia.

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