Ocupe Estelita deixa acampamento embaixo de viaduto no Recife
Manifestantes denunciam ter sofrido ataques violentos durante ocupação.
Atividades culturais, políticas e educativas continuarão sendo feitas.
Depois de 50 dias de ocupação, os manifestantes do Movimento Ocupe Estelita retiraram as barracas que mantinham sob o Viaduto Capitão Temudo, próximo ao Cais José Estelita, área Central do Recife, na noite desta quinta (10). Eles alegam que têm sofrido ataques violentos que desmobilizam a causa desde quando a reintegração de posse do terreno do Cais aconteceu, no dia 17 de junho. O movimento, entretanto, afirma que as atividades políticas, culturais e educativas continuarão sendo feitas tanto embaixo do viaduto quanto na Praça Abelardo Rijo, que também fica na área Central da cidade, nas proximidades do acampamento.
O Ocupe Estelita é contrário ao projeto Novo Recife, que prevê a construção de 12 torres residenciais e comerciais, com altura variando entre 20 e 41 andares, no terreno do Cais José Estelita, que tem uma área de 10 hectares (que equivale a 10 campos de futebol, aproximadamente). O terreno pertencia ao espólio da Rede Ferroviária Federal e foi adquirido em leilão realizado em 2008, pelo Consórcio Novo Recife, que é formado pelas empresas Ara Empreendimentos, GL Empreendimentos, Moura Dubeux Engenharia e Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário.
Em nota divulgada pelo movimento, o grupo propõe uma nova forma de ocupar a área do Cais e do Recife e salienta a importância das ações feitas até agora para que o espaço urbano fosse discutido. Na semana passada, as diretrizes urbanísticas de ocupação do terreno começaram a ser discutidas em reunião entre a Prefeitura do Recife, entidades, arquitetos, urbanistas e integrantes do Ocupe.
Na manhã da quinta, poucas barracas eram vistas no local, mas o grupo ainda pensava em continuar. Entre os problemas enfrentados pela ocupação no Capitão Temudo, eles destacam que dois ativistas foram atingidos por pedras e outros foram ameaçados por pessoas desconhecidas. “Neste ataque covarde, em que dois militantes foram atingidos por pedras, várias/os foram ameaçadas/os, um ônibus foi depredado, não só o Movimento foi vítima, mas a cidade como um todo. É importante registrar que esses atos se somam a uma série de outros ataques que já vinham acontecendo e sendo divulgados: perseguições, espionagem virtual, e ameaças diversas”, apontam, em nota.
Entenda a polêmica
A área do Cais José Estelita foi ocupada em 21 de maio por manifestantes contrários ao projeto Novo Recife. Eles pedem a nulidade do processo administrativo que aprovou o projeto, que hoje é objeto de ações judiciais questionando sua legalidade.
No dia 3 de junho, a Prefeitura do Recife anunciou a suspensão da licença que permitia a demolição de galpões da área do cais. No dia 5, o engenheiro Eduardo Moura, representante da Moura Dubeux Engenharia, afirmou que o Consórcio Novo Recife concorda em produzir um novo projeto para o terreno.
O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) concedeu a reintegração de posse da área, atendendo a um pedido feito por advogados do Consórcio Novo Recife. O DU e o Ministério Público recorreram da decisão, que foi analisada pela Justiça estadual no dia 18 de junho e considerada legal.
A reintegração de posse foi cumprida no dia 17 de junho, após ação violenta da PM no terreno. Desde então, a ocupação acontecia sob o viaduto Capitão Temudo, nas proximidades do Cais, no Centro. No dia 30 de junho, eles acamparam na sede da Prefeitura para cobrar participação nas negociações sobre o projeto.