‘Não há plano contra pacificação’, diz chefe de UPPs em velório de PM

Coronel Frederico Caldas negou que morte faça parte de ação ‘orquestrada’.
Soldado Melquizedeque foi morto no Alemão em confronto com traficantes.

O soldado Melquizedeque Basílio dos Santos, da UPP do Conjunto de Favelas do Alemão, foi enterrado neste domingo (3) por volta das 16h no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio. Ele foi morto no sábado (2) na comunidade onde trabalhava, na Zona Norte do Rio, após um tiroteio com traficantes. O policial foi o segundo agente de UPP morto em um mês — o outro caso ocorreu na Cidade de Deus, no início de outubro. A polícia, por sua vez, reforçou o contingente no Alemão já neste domingo.

O crime aconteceu após uma sequência de ataques de criminosos a UPPs, que teve como auge o assassinato do marido de uma policial militar, no último dia 29. A vítima foi decapitada em Relengo, Zona Oeste do Rio. O novo coordenador das UPPs do Rio de Janeiro, coronel Frederico Caldas, no entanto, negou relação entre os casos. “Esta ação não faz parte de plano orquestrado contra as UPPs. Não foi uma emboscada”, defendeu Caldas.

O coronel afirmou que é um desafio recuperar a paz em locais com histórico recente de confrontos, como o próprio Parque Proletário, onde o soldado foi morto. Caldas explicou ainda que os recentes embates entre traficantes e policiais nas comunidades pacificadas acontece por conta de uma nova dinâmica de patrulhamento.

” Essas sequências de enfrentamentos são para nós um desafio muito grande. O que a gente está fazendo é colocar um efetivo maior, uma dinâmica diferente e um reforço no patrulhamento”, disse.

De acordo com o coronel, 150 policiais atuavam na região da Vila Cruzeiro e Parque Proletário, no Complexo da Penha, onde ocorreu o confronto neste sábado.

Os PMs, segundo ele, estariam acessando becos e vielas que, antes, eram tidos como proibidos por conta do sabido tráfico na região, mesmo após a ocupação.” É inaceitável que nós tenhamos dentro da UPP um lugar que o policial não possa ir. A resposta que tiver que ser dada pela morte dos policiais vai ser dada. Não vamos recuar”.

Melquizedeque estava na corporação há um ano e meio, e retornou de férias no dia 1º de novembro, um dia antes de ser atingido, conforme divulgou a polícia. De acordo com a assessoria da UPP, o clima seguia calmo na comunidade até as 11h30 deste domingo. Não foram registrados novos conflitos. O comando da PM informou que o Bope fará novas incursões na região para encontrar os criminosos que atiraram no soldado.

PM: ‘muito criticada e pouco compreendida’, diz pastor
Responsável pela cerimônia religiosa da morte do soldado, o capelão da Polícia Militar, Pastor Douglas Marins, esteve no Jardim da Saudade pela terceira vez na semana para velar um agente oficial. “A população não se dá conta de quantos policiais morrem pelo Estado. A polícia é muito criticada e pouco compreendida”.

Em conversa reservada com o pastor os pais se mostraram muito abalados. “Eles são evangélicos. A fé nesse momento é uma âncora. Há um senso comum que ele morreu como herói, como um guerreiro”.

Após o enterro, o pai do soldado, Luis Carlos Basílio, de 55 anos, lamentou a morte. “Nós estamos passando por um momento de dor, mas compreendemos que ele veio cumprir a missão dele aqui. Ele queria ser PM, depois de ficar três anos na Marinha”. Melquizedeque era o único filho homem entre três mulheres. Solteiro, sem filhos, ele morava com a família no bairro do Jardim América, Zona Norte da cidade.

Outros feridos passam bem
Melquizedeque foi levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde já chegou morto, segundo informações do próprio hospital. Ainda de acordo com funcionários do Getúlio Vargas, outras três pessoas baleadas durante a troca de tiros foram atendidas no local.

Na troca de tiros, outras três pessoas ficaram feridas. Manoel Evaristo de Moura teve alta com ferimentos leves e Renato de Jesus do Nascimento passou por cirurgia, mas o estado de saúde dele é estável. Um menor de 16 anos que também foi ferido está lúcido e também tem estado de saúde estável.

Embora o Conjunto de Favelas do Alemão tenha sido pacificado em 2011, a região foi palco de diversas ações violentas em pouco mais de dois anos. A ONG AfroReggae chegou a encerrar suas atividades, em julho, por temer represálias do tráfico, mas acabou retomando os trabalhos pouco tempo depois.

Do G1

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