Áreas atingidas por tufão sofrem com saques generalizados nas Filipinas
Desespero toma conta dos sobreviventes da passagem de Haiyan.
Número oficial de mortes é de 2.275, mas pode ser muito maior.
O desespero tomou conta nesta quarta-feira (12) das ilhas das Filipinas devastadas pelo tufão Haiyan. Os saques se disseminaram, e os sobreviventes entraram em pânico por causa da falta de água, comida e remédios. Alguns desenterravam o encanamento em busca de água.
Cinco dias depois que uma das piores tempestades já registradas atingiu cidade e vilarejos do centro das Filipinas, a revolta e a frustração estavam em ebulição nesta quarta-feira, pois os itens essenciais estavam acabando. Alguns sobreviventes rabiscavam cartazes com o apelo: “Ajudem-nos.”
Surgiu também uma controvérsia sobre a cifra de mortos. O presidente Benigno Aquino disse que autoridades locais exageraram o número de mortes e que o total correto estaria entre 2 mil e 2,5 mil, e não nos 10 mil estimados previamente. Seus comentários, contudo, foram recebidos com ceticismo por equipes humanitárias.
Algumas áreas parecem quase mergulhadas na anarquia, em meio ao saque indiscriminado de armazéns com alimentos, água e outros suprimentos.
Há informações sobre troca de tiros entre forças de segurança e homens armados perto de uma vala com corpos em Tacloban, a cidade mais afetada, na província de Leyte, mas o prefeito local, Tecson John Lim, negou o confronto, com base em informes que recebeu do Exército.
Oito pessoas morreram esmagadas quando saqueadores investiram contra um depósito de arroz em um armazém governamental na cidade de Alangalang, provocando a queda de um muro, segundo autoridades locais.
Ainda assim, outros saqueadores conseguiram levar 33 mil sacos de arroz de 50 quilos cada, disse Orlan Calayang, administrador do órgão estatal de grãos, a Autoridade Nacional da Alimentação.
Depósitos de propriedade da empresa de alimentos e bebidas Universal Robina Corp e a indústria farmacêutica United Laboratories foram pilhados na cidade de Palo, em Leyte, bem como uma processadora de arroz em Jaro, de acordo com o diretor da Câmara de Comércio e Indústria de Leyte, Alfred Li.
O prefeito de Tacloban, Tecson John Lim, declarou que 90% dessa cidade litorânea, de 220 mil habitantes, foi destruída, e somente 20% dos moradores estão recebendo ajuda. As casas estão agora sendo saqueadas porque os depósitos ficaram vazios, disse ele.
“A pilhagem não é criminalidade. É autopreservação”, declarou ele à Reuters.
Alguns sobreviventes em Tacloban cavavam até chegarem ao encanamento, no desespero de encontrar água.
“Não sabemos se é seguro. Nós precisamos fervê-la. Mas pelo menos temos alguma coisa”, disse Christopher Dorano, 38 anos. “Muita gente morreu aqui.”
A moradora Rachel Garduce afirmou que a ajuda –3 quilos de arroz e 1 litro de água por domicílio por dia- não era suficiente em seu bairro devastado. Sua tia em Manila, a 580 quilômetros de distância, mais ao norte, estava viajando de trem e balsa para lhe trazer mantimentos. “Esperamos que ela não seja sequestrada”, disse.
O secretário Mar Roxas negou que a lei e a ordem tenham entrado em colapso. “É errado dizer que aqui é uma cidade sem lei”, disse ele a jornalistas. O governo foi sobrepujado pela força do tufão, que destruiu amplas áreas da província de Leyte, onde as autoridades locais dizem temer que 10 mil pessoas tenham morrido, muitas afogadas na imensa avalanche de água do mar, semelhante a um tsunami.
Na defensiva pelo modo como reagiu ao desastre, Aquino declarou que o governo ainda está recolhendo informações de várias áreas atingidas pela tempestade, e a cifra de mortos pode subir. “Dez mil acho que é um exagero”, disse Aquino à CNN em uma entrevista. “Houve drama emocional por causa dessa estimativa específica.”
Nesta quarta-feira as autoridades confirmaram 2.275 mortes e somente 84 desaparecidos, um número que trabalhadores nos esforços de ajuda consideram incorreto. “Neste momento, definitivamente não são 10 mil”, disse o secretário do gabinete, René Almendras, em entrevista à imprensa. “Há uma contagem com base nos corpos nas ruas, mas não podemos ser precisos porque ainda há, dizem algumas pessoas, gente soterrada em algumas áreas.”
Alguns integrantes das equipes de ajuda demonstraram ceticismo quanto à estimativa de Aquino.
Do G1