Padre Luizinho diz que pessimismo de eleitores é ruím para o país e solidifica “elites”
Por André Luis
O pároco da paroquia de Ingazeira e figura constante em debates políticos buscando ajudar na reflexão sobre temas cotidianos tanto no aspecto político, como nas questões que tem sido debatidas ao longo desse período na igreja, Luiz Marques Ferreira, o padre Luizinho, participou nesta terça-feira (13), no Debate das Dez da Rádio Pajeú, onde em uma conversa franca com o comunicador Nill Júnior, expôs o seu pensamento acerca do momento político que vive o país e as perspectivas para as eleições deste ano.
A participação de padre Luizinho se tornou uma grata coincidência visto que hoje se comemora os cinco anos de papado do papa Francisco, o primeiro papa latino-americano, que tem como uma de suas particularidades, não se calar diante de temas polêmicos.
O papado de Francisco – Para Luizinho, Papa Francisco se fosse chamado por Deus hoje, já deixaria “um enorme legado para o mundo”, pelo fato de ter aberto a igreja para o mundo no sentido de não ter medo de discutir os temas mais polêmicos que existem.
“Sobretudo com relação a questão da administração da igreja, talvez seja a mais contundente atuação dele, quando expõe toda a Cúria Romana como o lugar onde não estava condizendo com a atitude de Jesus Cristo. Então ele joga essa discussão, primeiro para os cardeais numa avaliação interna e depois passa para a comunidade católica do mundo.
Política – Padre Luizinho disse que é impossível para o clero, viver no mundo alheio aos acontecimentos, pois se for pensar em saúde, educação paz e moradia, inevitavelmente como um agente de pastoral, ou agente público a pessoa tem que lidar e questionar a política.
Comentando a pesquisa CNI/Ibope que concluiu que 44% dos eleitores estão pessimistas com as eleições de 2018 para presidente. Padre Luizinho atribuiu o pessimismo e a perca do encanto das pessoas às “elites”, que segundo ele: “nunca desejaram o bem pra todo mundo, apenas pra si mesmos”.
Segundo Luizinho isso é ruim para o país, pois a perca dos sonhos contribui para cada vez mais solidificar essas “elites”. “E é isso que eles querem, que os pobres, estudantes, negros, os índios, os agricultores, não se preocupem com os agentes político-partidários, pois a partir daí eles tem mais facilidade de dominar, pois não há organização sindical, não há questionamento da igreja, nem das instituições, isso que está acontecendo é triste, porque se 44% do povo diz que não quer mais saber de política, não vota mais em deputado, nem em senador, isso quer dizer que as pessoas estão abandonando essa ferramenta”, preocupou-se Luizinho.
Para padre Luizinho, a política é uma ferramenta importantíssima, para que as pessoas possam continuar militando, trabalhando, questionando e inclusive “denunciando a forma como se faz política no Brasil há 500 anos. Então isso é uma coisa muito pesada e a gente tem que ter a consciência de que foi bom pra classe dominante, mas é muito ruim para os pobres”, disse.
Padre Luizinho chamou a atenção para a forma como os brasileiros lidam com agentes políticos, votando em pessoas que nunca tiveram compromisso com o povo. “Nós encontramos hoje no país, no nosso estado, figuras que nunca tiveram compromisso com o povo, mas o povo esquece, quando a partir de julho, eles começam a vir e as pessoas esquecem muito rápido a prática desse pessoal, nunca defendeu o pobre, nem o agricultor, nem o negro, o índio, não defende de forma nenhuma a participação realmente ativa na política-partidária, esses caras vem e por causa do chefe político do meu município, leva meu voto, leva o voto das pessoas que dependem de emprego, de uma receita médica e isso tem sido perpetuado”, criticou.
Padre Luizinho criticou também a barganha como instrumento de troca de voto. “Você pode pegar os nossos municípios, todos, sem exceção, são votadas pessoas que não tem compromisso nenhum com o povo, mentem, vêm, traz toda a barganha sendo sustentado por um político que está perto do povo, por exemplo, um prefeito aqui no interior, tá perto do povo, a estrada é feita por ele, a saúde ele quem está com a caneta, então ele tem o grupo dele, aí diz: ‘vota em fulano que é meu candidato’ e o cara vai e vota, porque essa figura é dependente de um poder local, lugares que não tem emprego, que a saúde muitas vezes não funciona, lugares em que tudo funciona em torno do prefeito, esse é o problema”, disse.
Provocado, Luizinho falou sobre a displicência das pessoas na hora de votar e a contribuição que isso dá para que se perpetue o sistema de troca de favores que se instalou na política brasileira e que gera “alianças escusas e perigosas”.
O que é realmente um presidente no sistema político que a gente vive no Brasil hoje? Quem é que governa hoje no Brasil sem grandes alianças? Inclusive alianças escusas, alianças perigosas, porque pode entrar quem for, como está montado o congresso… então nós temos um problema muito sério, como é que a gente vai ter uma harmonia de poderes se cada um tira o poder do outro? O executivo fica à mercê do legislativo, o judiciário é que devia realmente defender a constituição também tem alianças perigosas e escusas dentro da política, isso teve uma exposição muito forte do governo Lula pra cá, ministros de primeira e segunda estância, juízes que muitas vezes tomam a atitude, a posição não com a interpretação realmente da lei, mas muitas vezes com um sentimento político-partidário, isso está aberto, não tem o que discutir e o povo não sabe que elegendo um Congresso, uma Câmara de Vereadores, uma Assembleia Legislativa do estado, elegendo deputados, ele está contribuindo muito com isso.”
Padre Luizinho também criticou o que ele chamou de: “aliança pecaminosa e amor miserável”, que acontece entre o mundo da política e o mundo empresarial. “O pecado que muita gente ficou decepcionado com Lula o que foi? Foi justamente dessa aliança pecaminosa e desse amor miserável que acontece infelizmente entre o mundo da política e o mundo empresarial. O Brasil precisa de bons empresários, precisa de empresas e o motor da economia que é o emprego, mas isso é uma coisa, outra é você abrir as portas dos palácios, das Câmaras, das Prefeituras para empresários e lá dentro eles fazerem alianças para tirar aquilo que seria recurso público para o público em detrimento das trocas que fizeram porque no país sempre foi assim fazer trocas né, isso foi normal a vida inteira”, criticou. Ouça abaixo a íntegra do debate de hoje: