Prédio de ocupação irregular desaba após incêndio no centro de SP
Um edifício de 24 andares desabou por volta das 2h20 da madrugada desta terça-feira (1º) depois de pegar fogo no início da madrugada no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo. Cerca de 150 famílias moravam nos primeiros dez andares do prédio, que era uma ocupação irregular, de acordo com a Prefeitura.
Ao menos uma pessoa está desaparecida. É um homem que estava sendo socorrido pelos bombeiros por um cabo quando houve o desabamento. Mais cedo, a corporação disse que havia três desaparecidos, mas recuou. Moradores relatam, entretanto, que há ao menos outras três pessoas desaparecidas, sendo duas crianças.
Os moradores deixavam o prédio em chamas quando ele desabou. A maioria estava dormindo quando foi surpreendida pelo fogo. “Perdi documento, perdi roupa, perdi tudo. Só deu tempo de sair correndo e mais nada”, diz Marinalva Alves Lemos, 45, que morava na ocupação com o companheiro, ambos desempregados.
“Estava dormindo, ouvi os gritos e vidros caindo. Quando percebi que era fogo, chamei eles [os filhos] e saí correndo”, diz Deise da Silva Rodrigues, 31, que morava havia um mês na ocupação, depois de ser desalojada de outro prédio, também no centro. Descalça, Deise contou que tinha um “barraco”, como eles costumam chamar o local que ocupavam no 3º andar, com cinco filhos.
A área do desabamento foi isolada e três outros prédios foram evacuados. Durante o incêndio, um segundo prédio, do outro lado da rua, acabou atingido pelas chamas. O fogo já foi extinto pelas equipes de bombeiros e a construção não corre risco de desabamento.
Saí só com a roupa do corpo e com a minha menina. Já morei em outras ocupações, morei na Lapa, em barraco da Inajar de Souza [avenida na zona norte da cidade]. Nunca tive nada de importante e agora perdi o pouco que consegui,” disse Gisele Félix das Neves, 18.
O governador do Estado, Márcio França, esteve no local por volta das 5h e disse que, após a contenção do fogo, cães farejadores serão empregados na busca por sobreviventes em meio aos destroços. “É uma tragédia anunciada. Tem muita estrutura metálica, muito lixo que é jogado no fosso dos elevadores”, disse França. “É um prédio que não tem a mínima condição de moraria. A União não podia ter deixado ocorrer essa ocupação.”
Ocupação em prédio da União
O prédio era uma antiga instalação da Polícia Federal que estava desativada, e havia sido ocupada irregularmente. Ao passar pelo local por volta das 10h, o presidente Michel Temer confirmou que o edifício pertence à União.
De acordo com o prefeito Bruno Covas (PSDB), havia 150 famílias no prédio cadastradas na Secretaria de Habitação para serem retiradas do edifício. Antes do incêndio, a Prefeitura estaria em contato com o governo federal, proprietário do edifício, para desocupá-lo, segundo Covas.
O edifício era uma das oito ocupações existentes no centro de São Paulo. De acordo com a Secretaria de Assistência Social, 248 pessoas já foram localizadas e serão levadas a abrigos da prefeitura.
Entre os desaparecidos está a mãe do mecânico desempregado Lucas Souza Sampaio, 32. Eles moravam no terceiro andar do prédio que desabou. O rapaz conta que, quando percebeu o fogo, subiu até o 6º andar para ajudar a irmã, que está grávida e tem um filho pequeno.
Enquanto eles desciam as escadas para sair, a parte interna do edifício começou a ceder. Como o fogo era intenso, ele desceu sem socorrer a mãe. “Já circulei por tudo aqui e não acho. Acho que ela não conseguiu sair”, diz.