Sem licença, usina queima canavial e fuligem prejudica moradores, em PE
Drama atinge 1,2 mil famílias de RIbeirão; usina diz que continuará moagem.
CPRH informou que autuou empresa e processo está no MPPE.
Mil e duzentas famílias que moram perto da Usina Estreliana, no município de Ribeirão, na Mata Sul de Pernambuco, estão sofrendo com a poluição causada pela queimada dos canaviais. O fogo faz com que a fuligem invada as casas e tire o sossego dos moradores. O drama foi mostrado no NETV 2ª Edição desta terça-feira (4).
A equipe de reportagem foi ao município na segunda (3) e, mesmo sendo um dia chuvoso e nublado, deu para ver a fumaça escura lançada no céu por uma das chaminés da Usina Estreliana. A moagem de 800 mil toneladas de cana teve início no final de setembro e marcou o recomeço de um grave e antigo problema para os moradores.
As 1.200 famílias que moram na vizinhança da usina passaram a conviver com um pó preto, espalhado no ar. Na Vila da Cohab, a faxina nunca termina, pois a fuligem invade garagens, varandas, entra pelas casas.
A dona de casa Cícera do Carmo Silva vive na mesma casa há 40 anos e sofre quando é tempo de safra. Nada escapa da fuligem: móveis, objetos de decoração, poltronas, cadeiras, eletrodomésticos. A cama do filho fica suja todo dia, o dia todo. “Quando ele acorda, está com o corpo todo coberto de carvão. Para dormir é complicado”, reclamou.
O gerente da Usina Estreliana, Alexandre Arero, disse que o filtro de uma das chaminés caiu e vai ser trocado em um mês. Mas, segundo ele, a falta do filtro não é o problema. “A queima da cana é que está produzindo essa fuligem ao redor da região. Temos um mês de moagem ainda [pela frente] e, quando terminar, encerra tudo”, disse;
A usina tem mais de 2 mil trabalhadores no campo e vai continuar queimando a cana até o final da safra. A Agência Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH) é responsável pela autorização das queimadas, que devem ser programadas e mapeadas. O desafio é fiscalizar se o que está sendo queimado foi autorizado ou não.
De acordo com o diretor de Fontes Poluidoras da CPRH, Waldecy Farias, a usina teve a licença de operação cancelada em 2012 por descumprir exigências ambientais. “Em consequência desse descumprimento, [a usina] não pode solicitar à CPRH a autorização [para queimada]. Em punição, a usina foi autuada em R$ 200 mil e todo o processo está no Ministério Público, a quem cabem as sanções civis”, explicou.
A assessoria de comunicação do Ministério Público informou que ainda não recebeu o relatório da CPRH sobre a Usina Estreliana.