Após protestos nas ruas, Maduro vê tentativa de golpe na Venezuela
Confrontos durante manifestações deixaram 3 mortos na quarta-feira.
Juíza mandou prender o líder opositor Leopoldo López.
A inteligência venezuelana recebeu ordem para prender um líder opositor na madrugada desta quinta-feira (13), depois que o presidente Nicolás Maduro chamou de tentativa de “golpe de Estado” os incidentes que deixaram três mortos durante protestos estudantis na quarta-feira.
A juíza Ralenys Tovar ordenou ao Serviço Bolivariano de Inteligência a detenção do opositor Leopoldo López, acusado de homicídio, lesões graves e associação para delinquir, informa o site do jornal “El Universal”, que publicou uma imagem da ordem apreensão 007-14.
Uma porta-voz de López afirmou que não tinha informações a respeito.
Na quarta-feira, milhares de estudantes, acompanhados por líderes da oposição, protestaram nas ruas de Caracas e de outras cidades contra a insegurança, a inflação e a falta de produtos básicos, em uma nova etapa da mobilização dos jovens registrada há 10 dias.
O protesto, o mais intenso contra Maduro desde que ele sucedeu Hugo Chávez, provocou incidentes durante várias horas. Três pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e quase 80 foram detidas.
“Lamentável o assassinato de um membro combativo da Revolução Bolivariana perto da Praça Candelária (a 200 metros de onde os opositores protestavam). Foi assassinado de forma vil pelo fascismo”, havia dito mais cedo Diosdado Cabello, presidente da Câmara, em um ato transmitido pela televisão oficial, ao anunciar o primeiro morto dos protestos.
O primeiro morto era um simpatizante do chavismo, identificado como morador do bairro popular 23 de Janeiro, reduto do governo. Ele morreu durante as manifestações.
“Calma e prudência, esta é uma provocação da direita (…) Até quando vamos continuar registrando mortes?”, disse Cabello, que não deu detalhes sobre as circunstâncias em que o ativista do chavismo morreu durante a manifestação.
Um manifestante do município opositor de Chacao teve sua morte anunciada na página do Twitter do prefeito da cidade, Ramón Muchacho.
A Venezuela, com gigantescas reservas de petróleo, tem uma inflação anual de 56,3% e um índice de escassez que em janeiro alcançou um em cada quatro produtos básicos, enquanto a violência provoca entre 39 e 79 homicídios por ano a cada 100 mil habitantes, segundo as estatísticas oficiais ou de várias ONGs.
Em um discurso exaltado transmitido por rádio e televisão, Maduro denunciou um “golpe de Estado em desenvolvimento”, mas prometeu que “a revolução bolivariana vai triunfar”.
Maduro, que assistiu a um grande desfile militar, que exibiu mísseis em rampas de lançamento móveis e blindados, disse ter dado “instruções muito claras às forças de segurança (…) quem sair para tentar exercer violência sem permissão para mobilização será detido”.
Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular (um dos maiores da oposição) e agora com ordem de captura, é um dos três dirigentes que estimulam a tática de ocupar as ruas com protestos antigovernamentais com o lema “A saída”.
Os outros dois líderes do movimento são o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e a deputada Maria Corina Machado, que tem imunidade parlamentar.
A tática da oposição nas ruas rendeu acusações de golpismo e divergências com outros opositores, como o ex-candidato presidencial Henrique Capriles.
Os três dirigentes ratificaram a estratégia na noite de quarta-feira.
“Diante de uma tirania a resposta é a rua e a mobilização”, disse a deputada Maria Corina Machado, que chama o governo de “ditadura Castro-Comunista”.
“Seguiremos com nossa agenda de luta nas ruas”, completou o prefeito Ledezma.
Maduro foi eleito em abril de 2013 por pequena margem de 1,5% ante Henrique Capriles. Mas oito meses depois, nas eleições municipais de dezembro de 2013, os candidatos do governo receberam 55% dos votos.
Um grupo de pessoas usando símbolos chavistas roubou uma câmera que pertencia à equipe de jornalistas da Agence France Presse que cobria nesta quarta-feira as manifestações em Caracas contra o governo.
A unidade de polícia procurada pelos jornalistas se recusou a prestar ajuda e se limitou a dizer que a equipe não deveria estar no local.
“Vocês deveriam saber o perigo que estavam correndo quando vieram para cá”, disse o coronel da Guarda Nacional Bolivariana D. González às jornalistas Patricia Clarembaux e Mariana Cadenas.
Na câmera roubada estavam gravadas imagens que registram o uso de gás lacrimogêneo contra os manifestantes, prisões e golpes dados por homens uniformizados contra seis estudantes. Havia também o relato de uma jovem que contava o que tinha acontecido.