Após oito assaltos, padre do Recife protesta e fiéis deixam de ir à missa
Na ação mais recente, ladrões levaram até garrafões de água mineral.
Marcelo Júnior é pároco em um dos bairros mais violentos da cidade.
Cansado de esperar atitude das autoridades competentes, o padre Marcelo Marques Santana Júnior resolveu protestar contra os constantes assaltos que a matriz de São Sebastião e a capela de Santo Amaro das Salinas têm sofrido. À frente da paróquia há um ano e meio, o religioso já contabilizou oito arrombamentos aos dois templos do bairro de Santo Amaro, um dos mais violentos do Recife.
Quem passa pela matriz agora pode ver duas faixas, onde se lê: “Senhor ladrão, não precisa entrar, infelizmente seus amigos já levaram tudo” e “Viva a impunidade brasileira”. “O tom irônico é proposital mesmo, para chamar a atenção das autoridades e da sociedade”, diz.
Na madrugada do sábado (22), ladrões invadiram a capela de Santo Amaro das Salinas e levaram tudo o que viram pela frente. “Perdemos o sistema de som, com mesa e microfones, os instrumentos, o sistema de iluminação, com refletores e lâmpadas, os ventiladores, e o dinheiro ofertado pelos fiéis, que estavam em dois cofres, além de todo o material litúrgico, como castiçais e crucifixos. Levaram até os extintores e os garrafões de água mineral”, lamenta o padre. De acordo com ele, a igreja estima um prejuízo de R$ 15 mil.
Segundo o religioso, após todos os arrombamentos ele prestou queixa formal. “Tenho todos os BOs (Boletins de Ocorrência) emitidos pela Polícia Militar. Em todas as vezes, com exceção dessa última, também formalizei queixa junto à Polícia Civil”, conta. Até agora, ninguém foi preso e nenhum bem foi recuperado. “Não vi nenhum tipo de movimentação das autoridades”, diz o sacerdote.
A violência já forçou a igreja a suspender a missa das quartas-feiras na capela de Santo Amaro. De acordo com padre Marcelo, com medo, os fiéis deixaram de frequentá-la, porque começava às 19h.
“Servimos a comunidade de duas formas: com a construção religiosa, com o culto, e com a construção humana, com o serviço social. E também nessa área estamos prejudicados, pois oferecemos cursos de inglês e estamos tendo que interromper a aula para que os jovens possam tomar ar, já que estamos sem ventilador”, lamenta.
Com a divulgação que as faixas trouxeram, o padre espera que finalmente as autoridades voltem os olhos para o problema. “O estado, de forma organizada, tem que fazer um trabalho com a comunidade, oferecendo educação de qualidade, aliado a um trabalho de polícia sério, de ressocialização. Não adianta fazer uma batida com pancadaria e depois passar seis meses sem ir à comunidade. Tem que haver um trabalho que resgate as pessoas”.
O que diz o governo
Procurada pelo G1, a assessoria da Polícia Militar afirmou, através de nota, que em todo o bairro de Santo Amaro há equipes do Grupo de Apoio Tático Itinerante (Gati), além de viaturas da Patrulha do Bairro, do projeto Polícia Amiga e equipes de motopatrulhamento. Não foram fornecidos números.
Também através de nota, a Secretaria de Defesa Social afirma que houve redução de 33% nos Crimes Violentos Contra o Patrimônio (CVP) na Área Integrada de Segurança 1, na qual o bairro de Santo Amaro está inserido, entre 2007 e 2013. A estatística é a mais recente do Pacto Pela Vida, programa do Governo contra a violência no estado, iniciado em 2007. A Secretaria ressaltou ainda que, na área do bairro de Santo Amaro, desenvolve o projeto Resgatando a Cidadania, o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência e implantou o Núcleo de Prevenção à Violência.