‘Bike delivery’ ganha força no mercado de entregas do Recife
Cidade ganhou empresa que atende zonas Norte, Sul e o centro.
Recepção é positiva, e empresários comemoram economia.
A tendência “ciclista” que vem ganhando força no Recife nos últimos anos começa a ir muito além das ciclofaixas de domingo e dos passeios noturnos em grupo. Com cada vez mais usuários no dia a dia, as bikes agora também começam a se destacar em um outro cenário: o do delivery. Se depender de alguns empreendedores da cidade, entregadores em cima de motos vão se tornar uma exceção, utilizados apenas em longas distâncias.
Recentemente, a capital pernambucana ganhou a primeira empresa especializada em entrega por bicicleta, a Ecolivery. O empresário Hugo Gomes teve a ideia ainda no fim de 2013, inspirado por alguns estabelecimentos de São Paulo que já utilizavam o sistema. Depois dos trâmites legais, a empresa foi fundada no início de fevereiro, já atendendo bairros das zonas Sul, Norte e Centro da capital. São três funcionários, incluindo o proprietário, que se revezam nas entregas de documentos e no atendimento de clientes fixos, como restaurantes e lojas de produtos orgânicos.
Apesar da ainda pouca quantidade de ciclistas entregadores, a intenção da Ecolivery, em pouco mais de 1 mês de funcionamento, é de expandir o negócio, com novas bicicletas e funcionários. “A demanda vem crescendo cada vez mais, está valendo muito a pena. O retorno do investimento eu vou conseguir tirar antes dos 6 meses, que é o que costuma acontecer no mercado. Acredito que chego no ponto do equilíbrio talvez no terceiro mês, ou seja, é muito positivo”, comentou Hugo.
Desenvolvedor de sistemas de computador, o empresário morava em Petrolina, no Sertão, onde tinha o hábito de utilizar bastante a bicicleta. De volta ao Recife, tentou usar o carro, mas não conseguiu, aderindo completamente ao uso das duas rodas. Para Hugo, que abandonou a carreira na área de computação, o mercado promissor e a vontade de fazer uma cidade mais saudável contribuíram para a decisão. “A bicicleta está deixando de ser marginalizada. Hoje em dia, ela está sendo muito procurada por pessoas com alto poder aquisitivo, o que mostra que a mentalidade está mudando. Mas ainda falta muito para chegar a um trânsito mais humano e de respeito”.
Um dos clientes da Ecolivery é o restaurante de comidas saudáveis Sansa, localizado no Bairro do Recife. A moto foi abolida para entregas na região mais central da capital, o que está trazendo benefícios para clientes e para a própria empresa. “Tivemos uma repercussão muito boa, com as pessoas achando bem legal a iniciativa. Ficamos mais ágeis para entregas mais perto da gente”, revelou o dono do restaurante, Paulo Lucas.
Os funcionários da empresa utilizam todos os equipamentos de segurança e recebem orientações sobre leis de trânsito, como a de não pedalar na contramão ou em calçadas. A cobrança acontece de acordo com a distância e urgência do pedido. O máximo que é percorrido pela equipe são 15 quilômetros, o que corresponde a uma corrida de Boa Viagem, na Zona Sul, à Tamarineira, na Zona Norte.
Quem passa a aderir ao sistema de “bikedelivery” aponta a economia como uma das principais vantagens. É o caso do empresário Alberto Capela, dono de uma padaria localizada na Avenida 17 de Agosto, em Casa Forte. Com três ciclistas contratados, ele realiza entregas de qualquer produto há quatro anos, em bairros como Poço da Panela, Parnamirim, Apipucos e Santana. “Nunca tive nenhum tipo de acidente com meus funcionários em todos esses anos. É muito mais seguro do que moto. Sem falar que quase não tenho gastos com manutenção do veículo e os ciclistas não sofrem para encontrar estacionamento”, apontou Capela.
Além de todas as vantagens, o delivery por bicicleta costuma agradar e surpreender bastante os clientes. Na padaria Armazém Capela, as pessoas podem pedir pão, leite e biscoitos, não tendo que pagar taxa ou consumir um valor mínimo. “Isso só é possível por causa da bicicleta. Muita gente fica muito cansada quando chega do trabalho e não quer ir na padaria. Então, dou essa alternativa”, disse Alberto Capela.
Já no centro do Recife, sede de diversas empresas, a falta de tempo e o trânsito congestionado aumentam a procura por serviços de entrega na hora do almoço. O funcionário público Paulo Gondim, cliente do Sansa, afirma que o uso da bicicleta acelerou a entrega dos pedidos. “A pessoa vinha a pé, agora com a bicicleta é bem melhor, mais rápido. Sem falar que a moto é mais perigosa”, comentou. De acordo com os empresários, o mercado ainda está começando a conhecer e usufruir os benefícios desse modo de delivery. Para eles, o retorno já é garantido.
Plano Cicloviário
No último dia 5 de fevereiro, o governo do estado, em parceria com prefeituras da Região Metropolitana, anunciou a construção de 590 quilômetros de ciclofaixas, ciclovias e ciclorrotas no Grande Recife, nos próximos dez anos. A proposta também pretende interligar a rede aos terminais de ônibus, às estações de metrô e às plataformas de transporte fluvial, dentro do Plano Diretor Cicloviário. Atualmente, a capital pernambucana possui apenas 21,7 km de rotas cicloviárias fixas.