Colégio de Aplicação da UFPE deixa de fornecer alimentos a estudantes
Contrato provisório venceu e novo edital está sendo elaborado.
Estudantes levam almoço de casa ou compram na cantina do colégio.
No início das aulas do primeiro semestre letivo de 2014, os 420 estudantes do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tiveram uma surpresa: a tradicional alimentação servida no recreio e no almoço não estava mais disponível. Isso devido à falta de um contrato definitivo com uma empresa terceirizada que possa fornecer os alimentos. Na base do improviso, o colégio manteve contratos emergenciais, nos anos anteriores, e agora aguarda a elaboração de um edital de licitação para poder oferecer novamente o serviço aos estudantes.
Com a situação, os alunos se viram como podem, seja trazendo comida de casa ou pedindo dinheiro para que os familiares paguem as refeições. Tradicionalmente, no meio da manhã, os alunos recebiam lanches como bolo, biscoito e suco. Por volta do meio-dia, o almoço era servido em forma de self-service.
As alunas do oitavo ano Isabelle Santos e Letícia Maia contaram que, no primeiro dia de aula, em 4 de abril, foram surpreendidas com a notícia de que não haveria lanche. Desprevenidas, as estudantes tiveram que agir na base do improviso. “No dia, tivemos que juntar dinheiro. Eu cheguei a ligar para meu pai ir me buscar.
Só assim eu poderia almoçar, já que ia passar o dia inteiro no colégio”, disse Letícia, de 13 anos.
Diante da nova situação, alguns professores chegam a liberar os alunos mais cedo da aula, já que eles precisam encarar a fila da única cantina do colégio – muito grande, por causa da demanda – ou se deslocar para outros prédios dentro do campus da UFPE, como o Centro de Artes e Comunicação (CAC). No Colegio de Aplicação, os alunos enfrentam maratona integral de aulas, dependendo do dia da semana. Às segundas e quartas, o esquema vale do sexto ao oitavo ano; às terças e quintas, vale para estudantes do nono ano e ensino médio.
Além dos dias de aula no colégio, muitos estudantes, principalmente do ensino médio, têm outros compromissos, como aulas em cursinhos.
É caso de Laura Ramalho, do segundo ano, que já se prepara para o vestibular. “Todos os dias da semana, passo o dia na rua. Antes, eu só precisava pagar as duas [refeições] que não eram na escola, mas agora tenho que pagar todas as cinco da semana. Meus pais não reclamam, mas sei que afeta o bolso deles” contou. Um prato na cantina do colégio, onde a maioria dos estudantes está comendo, sai em média por R$ 8.
Outra opção dos alunos é trazer lanche de casa, o que muitas vezes não é mais saudável do que o almoço oferecido no colégio. Nesta quarta-feira (16), Ana Luiza Medeiros e Laiz Alves, alunas do segundo ano, se alimentavam com refrigerante e biscoitos por volta do meio-dia. De acordo com as alunas, nenhum comunicado foi repassado diretamente aos alunos, somente à Associação dos Pais de Alunos do Colégio de Aplicação (Apac). “A gente está no escuro, sem saber quando vai normalizar”, disse Ana Luiza.
Para o presidente da Apac, Márcio Lima, o medo é em relação ao rendimento dos estudantes. “Há alunos no colégio que podem não ter condições de manter a alimentação saudável. O colégio é um orgulho para todo o estado, com destaque, mas não podemos aceitar essa situação”, destacou. Muitos alunos também são impedidos pelos pais de sair das dependências do colégio, por conta da idade considerada insuficiente para lidar com estudantes do nível universitário.
De acordo com Lei Federal número 11.947, de 2009, a alimentação escolar deve ser fornecida a todos os alunos matriculados na rede pública de educação básica, incluindo ensinos infantil, fundamental e médio. O Colégio de Aplicação tem 420 alunos e constantemente figura na lista das melhores instituições públicas do país.
Resolução
O diretor do Colégio de Aplicação, o professor Alfredo Matos, informou que o problema, de forma otimista, deve ser resolvido no segundo semestre letivo de 2014, que terá início em setembro. No momento, o edital está em fase de elaboração na reitoria da UFPE.
Até 2012, quando o professor assumiu o cargo, o serviço de alimentação era realizado através de um convênio com o estado de Pernambuco. Como a instituição é federal, o modelo teve que ser abolido. Desde então, em caráter emergencial, uma empresa foi contratada para realizar o serviço através de um pregão, que é um processo licitatório mais rápido, onde primeiro ocorre a abertura das propostas.
Desde o final de 2012, a direção deu início à elaboração de um edital para uma licitação definitiva. “Agora eu entendo porque demora. A gente precisa de muitos detalhes para não haver nenhum buraco. Sem falar que os serviços de bufê normalmente já incluem bebida alcoólica. Para o perfil de uma escola de segundo grau, é muito difícil encontrar. Em aproximadamente quatro meses, consegui o orçamento de apenas três empresas”, disse Alfredo Matos.
No momento atual de elaboração do edital, muitas dúvidas ainda estão sendo tiradas entre o Aplicação e a UFPE. “Estamos todos empenhados para resolver a situação. Mas essa é a primeira licitação que será feita no colégio, e a UFPE é essencialmente uma instituição de terceiro grau, então também enfrenta dificuldade para elaborar o documento”, disse o diretor.
Ainda de acordo com a direção, desde o final de 2013 que a Apac está informada que, no primeiro semestre de 2014, a alimentação não seria fornecida.