Consultor diz em depoimento que pagou US$ 250 mil a ex da CPTM
Arthur Teixeira negou ser lobista em depoimento ao promotor Valter Santim.
Ex-diretor da CPTM disse que prestou serviço de assessoria a consultor.
O Jornal Nacional teve acesso com exclusividade ao depoimento ao Ministério Público do consultor Arthur Teixeira, considerado um peça chave nas investigações sobre o suposto cartel que teria atuado em licitações de trens e metrô em São Paulo e no Distrito Federal.
O consultor é suspeito de pagar propina a agentes públicos para favorecer as participantes do suposto cartel – denunciado no ano passado pela empresa Siemens em troca de imunidade para ela e para seus ex- executivos. As denúncias em São Paulo são do período entre 1998 e 2008, em governos do PSDB.
No depoimento dado ao promotor Valter Santim, Arthur Teixeira confirmou que pagou, na Suíça, US$ 250 mil para o ex-diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) João Roberto Zaniboni. Ele disse que o valor era para serviços de consultoria. Os promotores afirmam, no entanto, que esse dinheiro foi propina.
Arthur declarou, ainda, que tinha duas contas na Suíça e que elas foram encerradas há muitos anos. Para a Promotoria, ele mentiu sobre essas contas. O MP afirma ter uma lista com 13 contas na Suíça em nome de empresas que têm como principal beneficiário Arthur Teixeira. Para os promotores, ainda que não estejam no nome dele, as contas são do consultor.
O advogado de Arthur Teixeira nega que o cliente tenha contas na Suíça. João Roberto Zaniboni disse que prestou serviço de assessoria a Arthur Teixeira. Mas que o trabalho foi feito antes de ter assumido a diretoria da CPTM.
Agentes públicos
Em outro trecho do depoimento de 13 páginas, o consultor Arthur Teixeira também falou sobre a relação com políticos e servidores públicos citados pelo autor da denúncia.
O consultor negou que fosse “lobista” ou “pagador de propina”. Ele disse que conheceu o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) quando ele era secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, no início dos anos 90, e que não pediu ajuda a ele em consultorias ou negociações com CPTM e Metrô.
Teixeira também declarou que teve contato com o agora secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. Segundo ele, “era normal” acompanhar as empresas em reuniões com diretores da CPTM e do Metrô e com o próprio secretário Fernandes.
O consultor disse ainda que participou de um jantar de campanha do deputado federal licenciado do PSDB José Aníbal, atual secretário estadual de Energia. Segundo ele, “foi a única contribuição para a campanha”, afirmando que as empresas das quais era sócio não contribuíram para a campanha eleitoral.
Teixeira acrescentou que “conhece superficialmente” Edson Aparecido, secretário-chefe da Casa Civil do governo paulista, e Arnaldo Jardim, deputado federal do PPS, e que não tratou com eles assuntos dos setores de Metrô e trens.
O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, disse que só encontrou Arthur Teixeira em reuniões do setor. Os secretários estaduais de Energia, José Anibal, e da Casa Civil, Edson Aparecido, afirmaram que viram Teixeira apenas em eventos públicos. O deputado federal Arnaldo Jardim, do PPS, disse que encontrou Arthur Teixeira diversas vezes em eventos do setor. Mas que não teve qualquer relação comercial com ele.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) afirmou que a relação com Teixeira foi profissional. Ele também lembrou que não está sendo investigado na ação sobre cartel e que seu nome não foi incluído no processo enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Executivo da Siemens
Em outro ponto do depoimento, Arthur Teixeira ataca Everton Reinheimer, o ex-executivo da empresa alemã Siemens que denunciou o suposto esquema. O consultor disse que desconfiou desde o início que foi Reinheimer quem fez a denúncia.
Em depoimento, ele afirmou que “não era amigo nem inimigo” do ex-executivo, mas que “o relacionamento deles era difícil por razões comerciais e pessoais”. E ainda sugeriu o motivo para que Reinheimer denunciasse o esquema. Segundo Teixeira, ele “insinuava interesse em receber algum valor”.
Everton Rheinheimer negou as acusações. Ele disse que tem sido alvo de ataques com objetivo de minar sua idoneidade e que nunca teve interesse pessoal e político no caso.
Do G1