Conta de ex-deputado servia como caixa do PP, diz Youssef à Justiça

Doleiro Alberto Youssef prestou mais um depoimento nesta segunda (10).
Presidente do PP diz não ter conhecimento oficial do teor dos depoimentos.

O doleiro Alberto Youssef disse à Justiça Federal, em Curitiba, nesta segunda-feira (10), ter feito o papel de caixa para o ex-deputado José Janene (PP), que foi réu no mensalão, suspeito de ter recebido R$ 4,1 milhões do esquema, e morreu em 2010. Ainda conforme o doleiro, a conta de Janene funcionava como caixa do Partido Progressista (PP). “O caixa dele ficava em minhas mãos”, pontuou Youssef. Ele também afirmou que cabia ao doleiro Carlos Habib Chater a entrega de dinheiro para agentes políticos, que eram clientes de Youssef.

O mensalão ficou conhecido pelo suposto esquema de compra de votos de parlamentares. Em 2006, Janene foi absolvido na Câmara do processo de cassação, por falta de votos favoráveis à saída do deputado. A suspeita é que o recurso tivesse origem nas empresas do publicitário Marcos Valério de Sousa. Ele sempre negou a acusação. Na ação, ele é acusado de formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A audiência realizada nesta segunda-feira foi sobre o processo por lavagem ou ocultação de bens oriundos de corrupção e por crimes praticados contra a Administração. Carlos Habib Chater, Ediel Viana da Silva e Carlos Alberto Pereira da Costa também prestaram depoimento nesta segunda-feira. Os quatro são réus deste processo originado da Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), que desmontou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro em março deste ano.

Esta audiência ocorreu na Justiça e não faz parte dos depoimentos da delação premiada que Youssef tem prestado ao Ministério Público Federal (MPF) na sede da PF, na capital paranaense, onde está preso desde março deste ano.

Por meio da assessoria, o presidente do Partido Progressista, senador Ciro Nogueira, informou que o PP não tem conhecimento oficial do teor dos depoimentos, mas está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

Segundo a denúncia formulada pelo MPF, os acusados lavaram recursos criminosos de titularidade do ex-deputado federal José Janene para investimentos em empreendimento industrial em Londrina, no norte do Paraná, constituindo a empresa Dunel Indústria.

Youssef negou ser sócio da Dunel ou ter feito qualquer investimento na empresa. “Minha participação nesse assunto foi só realmente fazer o depósito” declarou Youssef durante a audiência.

Em relação à origem dos valores de José Janene, Youssef afirmou ser de “comissionamento de empresas – empreiteiras, esse tipo de empresa”. Youssef ainda confirmou ao juiz federal Sergio Moro que esses recursos eram provenientes de propina.

Ao ser questionado pelo advogado de defesa Antonio Figueiredo Basto sobre a administração da conta com recursos de José Janene, Youssef declarou que havia valores de outras pessoas além do deputado. “Na verdade, essa conta era uma conta que também ia recursos para outras pessoas. Não que eu administrasse o recurso dessas outras pessoas, mas eu via esse caixa como caixa do partido”. O advogado perguntou qual partido, e Youssef disse: “Partido Progressista”. “Só o Partido Progressista?”, insistiu o advogado. O doleiro respondeu: “Sim, senhor”.

Logo após o término da audiência desta segunda-feira, Tracy Reinaldet, que também participa da defesa de Youssef, já tinha contado que o doleiro apenas operacionalizou o investimento na Dunel para José Janene. Reinaldet disse que Youssef não era sócio de Janene nestes investimentos. “Nunca teve a participação que o Ministério Público quis atribuir a ele nesta denúncia. Então, nesse sentido a denúncia é fraca”, concluiu.

Youssef é acusado de chefiar um esquema de desvio e lavagem de dinheiro, estimado em R$ 10 bilhões, desvendado pela Operação Lava Jato em março. Ele e os procuradores do Ministério Público Federal entraram em um acordo de delação premiada. Com isso doleiro se comprometeu a dizer tudo o que sabe sobre o esquema de lavagem de dinheiro que chefiava, em troca de reduções nas penas que lhe podem ser imputadas.

Na saída da audiência, o advogado de Chater, Roberto Brzezinski Neto, afirmou que não poderia entrar em detalhes sobre o conteúdo do depoimento. Ele apenas disse que a audiência foi longa, e que transcorreu bem. Já Carlos Alberto Pereira da Costa, que advoga para si mesmo, preferiu não falar com a imprensa. O advogado de Ediel Viana da Silva não foi localizado pela reportagem.

Do G1

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