Crimes por motivo banal são a 2ª causa de assassinatos em PE
Em 2012, 555 pessoas foram mortas por conflitos em comunidades.
Psiquiatra diz que ameaças simbólicas disparam sistema de defesa.
O pavio curto não tem endereço certo: mora na mesma rua, na casa ao lado. Resolver um aborrecimento matando é algo que não cabe na cabeça de ninguém sensato. Mas, com o sangue fervendo, isso – infelizmente – tem acontecido bastante. De acordo com levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público, no Brasil, grande parte dos homicídios é cometida por impulso, num momento de explosão. Esses crimes por motivos banais representam a segunda causa de assassinatos em Pernambuco.
De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), em 2011, 853 pessoas foram mortas por conflitos em comunidades de Pernambuco. Em 2012, houve 555 mortes desse tipo no estado. Este ano, até agosto, 526 pessoas tinham morrido por causa de brigas nos locais em que viviam, os crimes de proximidade. O titular da SDS, Wilson Damázio, disse que incialmente o Pacto Pela Vida, programa estadual de enfrentamento à violência, mirou nas grandes causas criminais. “Esse trabalho deu resultado na redução dos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), mas ainda nos preocupam muito esses crimes de proximidade, aqueles que têm sua motivação ligada à convivência”, afirmou.
Pode ser em qualquer lugar. É comum um engarrafamento tirar a pessoa do sério. E mau humor, estresse… Viram combustíveis pra uma briga. “A gente nunca sabe a reação do ser humano diante das circunstâncias. Mas o diálogo é a melhor maneira de resolver qualquer situação”, comentou o pastor Pietro Pires. Algumas situações, entretanto, chegam ao extremo. Domingo passado, no bairro de Santa Mônica, em Camaragibe, uma crise de ciúme durante um batizado pode ter causado a morte de duas pessoas.
Providências
Wilson Damázio falou das providências que vêm sendo tomadas contra esse tipo de crime. “Acabamos de lançar a patrulha Maria da Penha. E nossos delegados têm obrigação de, em 48 horas, resolver qualquer questão ligada a ameaças. Também trabalhamos na operação Sossego, visando evitar o som alto, que tem sido causa de conflitos nas comunidades”, enumera.
Lutar ou fugir
O psiquiatra e professor de psicologia Marcus Túlio cita alguns mecanismos internos de defesa para explicar tanta agressividade. Segundo ele, é antigo o instinto de lutar ou fugir diante de uma ameaça. “O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) acompanha o homem desde o período pré-civilizatório, dando energia extra ao homem para lutar ou fugir. Com a civilização, esse sistema não desapareceu, mas os perigos que o disparam hoje não são mais ameaças que vêm da natureza, mas as de ordem simbólica, como amor, desamor, ciúme, vergonha, autoestima…”, esclarece.
De acordo com Marcus Túlio, na falta de lutar ou fugir, a energia se acumula e acaba resultando em agressões. “Não somos potencialmente violentos, entretanto há possibilidade de violência. Qualquer um de nós pode cometer um ato violento em certas circunstâncias. Existem pessoas que têm mais dificuldades de controlar seus impulsos. Por uma estrutura de personalidade, por certos transtornos psicopatológicos, uso de álcool e rancores acumulados podem ter mais facilmente essa expressão”, explica. E lembra ainda que é mais difícil exercer algum controle no momento da explosão. “O sistema nervoso é autônomo, age sozinho portanto. Temos que treinar para começar a exercer esse controle no dia a dia”.
Do G1