Debate das Dez: A igreja e as políticas contra a seca
No Debate das Dez de hoje (22), O Bispo Diocesano, Dom Egídio Bisol e o Padre Luizinho Marques, falaram sobre a posição da igreja diante do momento mais delicado de nossa história em relação a maior estiagem das últimas décadas.
Dom Egídio ressaltou que a seca não é novidade em nossa região e que já passou por várias situações emergenciais.
“O fato é que essa é a maior estiagem dos últimos 50 anos”, lembrou.
Dom Egídio contou de uma situação que viveu ha mais ou menos 30 anos atrás, em São José do Egito quando passaram meses sendo abastecidos com carros-pipa o que é uma situação vergonhosa.
Dom Egídio disse que o Sertão do Pajeú melhorou em muitos aspectos, mas que não consegue ter melhoras na situação do abastecimento de água.
Dom Egídio disse ainda que realmente houve uma falha nas políticas públicas.
Dom Egídio ressaltou que tem muitos órgãos da própria sociedade que se preocupam com essas questões e que tem visto até um maior interesse por parte do Estado para que não possamos passar mais por isso.
Quando questionado sobre como andam as outras dioceses do semiárido, Dom Egídio disse estar todas da mesma forma e que as soluções também são parecidas.
Dom Egídio disse que é importante mudar a forma de como é usada e armazenada a água nos tempos de fartura.
“As pessoas não sabem usar de forma racional a água que temos” e ressaltou que há lugares no mundo em que pessoas vivem com muito menos água que a gente.
Dom Egídio disse que a igreja tem sido chamada para debater esses temas e que de alguma forma tem sido envolvida, só que no campo técnico, a igreja não tem autoridade para falar.
Disse crer que a igreja age no campo ético, acompanhado, como estão sendo utilizados os recursos.
Dom Egídio se mostrou preocupado, pois acha que a perspectiva do povo da zona rural mudou.
“Eu sinto uma certa desafeição ao campo, o jovem não se sente animado a dar continuidade”, alertou.
Dom Egídio ressaltou que há um trabalho muito grande a ser feito no campo educativo, para que as pessoas possam aprender a utilizar da melhor maneira possível os recursos naturais.
E comentou sobre uma denúncia que havia recebido, sobre alguém estar tentando furar a tubulação da Adutora para puxar água para si.
Padre Luizinho falou sobre a discussão em torno da barragem de Ingazeira e disse ser ela uma das obras mais antigas nesse sentido que ainda não foi executada na região.
Disse que o grande problema neste tipo de obra é que falta um melhor planejamento para executar a obra e as demais questões que a envolvem.
Ressaltou o fato de que praticamente nenhuma obra para construção de barragens, tem um plano para reassentamento das pessoas.
Padre Luizinho disse ainda que falta a preocupação com as pessoas, pois se pensa em tudo, meio ambiente, formas de vida e impactos na natureza, mas não se pensa nas pessoas, não se pensa o que vai ser feito com estas pessoas que precisam ser desapropriadas para a construção destas barragens.
“A igreja não é contra a construção da barragem, a igreja esta preocupada com as pessoas que serão desapropriadas” ressaltou Padre Luizinho.
“Eu penso que a Adutora não é a solução de nossos problemas, ela é uma ajuda”, afirmou Dom Egídio.
Dom Egídio disse ainda que se sabe que a Adutora não tem condições de resolver toda a situação relacionada à água para toda a região.
“O que precisava ser feito ao longo de 30 anos não pode ser feito em 3 meses” ressaltou Dom Egídio.
Dom Egídio ressaltou ainda a importância de dar continuidade as outras soluções que tem sido colocadas, como por exemplo, as perfurações de poços.
Dom Egídio ainda alertou para que depois que o abastecimento estiver normalizado e com a chegada das chuvas, para que a verdadeira situação não seja esquecida, correndo assim o risco de passar por tudo isso novamente.
Ouça abaixo na íntegra o áudio do debate: