Especialista condena cirurgia experimental para redução de peso que está dando o que falar

Conhecida por interposição ileal, procedimento não é autorizado pelo Conselho Federal de Medicina. Cid Pitombo, referência nacional e internacional em cirurgia bariátrica e médico dos atores André Marques e Leandro Hassum, não recomenda o uso da técnica e alerta: “Por ser ainda uma pesquisa, pacientes não podem pagar pela interposição”

Um quinto da população brasileira adulta está obesa, revela estudo publicado em revista científica internacional no ano de 2016. Isso equivale a quase 30 milhões de pessoas, o que coloca o país entre os mais obesos do mundo, ficando atrás somente da China e dos Estados Unidos. O culto ao corpo também é uma marca da sociedade brasileira e, portanto, não são pouco frequentes o surgimento de fórmulas, dietas e até procedimentos que prometem eliminar gordura em pouco tempo. Está aí o risco.

Nas últimas semanas a imprensa começou a repercutir casos de pacientes que supostamente morreram após passar pelo procedimento chamado de interposição ileal com o objetivo de reduzir peso e controlar o diabetes. Trata-se da extração de parte do estômago e a colocação do íleo entre o jejuno e o duodeno (parte superior do intestino). Este procedimento não é autorizado pelo Conselho Federal de Medicina.

O dr. Cid Pitombo, recordista de cirurgias bariátricas pelo Sistema Único de Saúde, alerta que a interposição ileal não passou por todos os testes de eficácia e riscos necessários para a segurança dos pacientes. Por ser um procedimento praticamente irreversível, tem altos riscos e pode levar a graves consequências.

Pitombo é editor-chefe do livro ‘Obesity Surgery: principle and practice’, referência mundial no assunto, da editora McGraw-Hill. Clique e leia mais.

“Para se ter uma ideia, a técnica de cirurgia bariátrica por videolaparoscopia que hoje utilizo começou a ser pesquisada em 1966 e apenas na década de 90 passou a ser um procedimento autorizado. Não há estudos suficientes sobre o protocolo da interposição ileal, muito menos a medida dos riscos que o paciente é submetido”, explica o dr. Cid Pitombo, responsável pela cirurgia bariátrica de sucesso nos atores André Marques e Leandro Hassum.

Por ser algo experimental, antes de operar um paciente com a técnica da interposição ileal o médico precisa pedir autorização à Comissão de Ética e Pesquisa (Conep), órgão vinculado ao Ministério da Educação. Além disso, a pessoa precisa estar ciente de que se trata de um teste, concordar com os riscos e nada pode ser cobrado dela. Ou seja, paciente não pode pagar nenhum valor de cirurgia, nem de material ou internação.

Ele orienta os pacientes a sempre questionarem os médicos antes de decidir por um procedimento: “Tem que perguntar se a cirurgia que está sendo sugerida é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina.”

Pitombo é o recordista de cirurgias bariátricas do SUS – Cid Pitombo é o criador do Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica que mantém a média de 40 pacientes operados por videolaparoscopia por mês no Hospital Estadual Carlos Chagas, no Rio de Janeiro. Já passaram pelo procedimento quase 1.600 pacientes do Sistema Único de Saúde.

Perfil do especialista – Há quase 25 anos, ao sair da faculdade, Pitombo foi para os Estados Unidos se especializar em cirurgia laparoscópica. Voltou ao Brasil cinco anos depois para aprender sobre cirurgias da obesidade e, ao final do mestrado e doutorado, rodou grandes centros de cirurgia bariátrica nos EUA. Logo percebeu que os conhecimentos sobre laparoscopia e obesidade eram uma área a ser explorada. Juntou-se aos grandes nomes da cirurgia bariátrica, experimentou diferentes técnicas, operou e deu aulas em diversos países e se tornou referência no Brasil em cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, técnica que utiliza em todas as unidades em que opera. O procedimento é menos invasivo e proporciona recuperação mais rápida do paciente.

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