Estado de Pernambuco e Usina Santa Tereza vão a julgamento por assassinato de trabalhador rural em 1998 

A família do trabalhador Luiz Carlos da Silva, assassinado em 1998, durante uma greve de trabalhadores rurais, no município de Goiana, zona da mata de Pernambuco,  espera finalmente que a justiça seja feita na tarde desta quinta-feira, 09/03/2017.

Às 14h, no Tribunal de Justiça de Pernambuco, está marcado para ocorrer  o julgamento  dos recursos interpostos pelas partes contrárias condenadas em primeiro grau: o​ Estado de Pernambuco e a CAIG – Cia Agroindustrial de Goiana  (Usina Santa Teresa). Ambos recorrem da decisão da juíza Mariza Silva Borges, tomada em primeira instância, em 2010 –  12 anos após o assassinato do trabalhador rural. Naquela ocasião, o Estado de Pernambuco e a empresa  foram condenados ao pagamento de indenização por danos morais e materiais,  no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), com juros e correção monetária, à família do trabalhador. Hoje, 7 anos depois da condenação em primeira instância, a família ainda aguar ​da o recebimento da indenização.

Entenda o caso 

No início do mês novembro de 1998, ​ cortadores de cana  do Estado de Pernambuco, organizados por seus sindicatos, entraram em Greve para exigir melhoria nas condições de trabalho e reajuste salarial (os trabalhadores recebiam R$ 2,50 por tonelada de cana cortada). Contudo, a Usina Santa Teresa, localizada no município de Goiana, por ter muitos de seus trabalhadores canavieiros aderido à greve, passou a utilizar a mão-de-obra dos cortadores de bambu para substituí-los.

Sabendo de tal artifício, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Goiana em conjunto com 80 canavieiros se dirigiram ao Engenho Terra Rica, da Usina Santa Teresa, em 04 de Novembro de 1998, para pacificamente convencer os trabalhadores a aderirem ao movimento e protestar contra a substituição dos grevistas pelos cortadores de bambu.

À 500 metros do local do corte, os canavieiros em greve se depararam com um bloqueio formado por policiais militares e seguranças do engenho. Todos fortemente armados. Minutos depois, por trás dos grevistas, chegou uma caminhonete também com policiais e segurança já atirando contra os trabalhadores rurais, que correram para tentar se proteger.

A barbárie da Polícia Militar, nesta hora, se mostrou tão intensa e de tanta covardia, que mesmo vendo os trabalhadores correrem para não serem mortos, os soldados continuaram atirando pelas costas dos grevistas; Após o massacre promovido pela Polícia Militar e pelos seguranças da Usina, o resultado foi de treze trabalhadores rurais feridos pelas costas, e a morte do trabalhador rural, covardemente assassinado com um tiro na nuca. LUIZ CARLOS DA SILVA, o canavieiro assassinado era funcionário da Usina Santa Teresa, tinha apenas 27 anos de idade, era casado e tinha dois filhos.

​Em 2008, ​ O Ministério Público, assistido pela assessoria jurídica da Comissão Pastoral da Terra e da FETAPE, conseguiu levar a julgamento e condenar criminalmente 05 soldados e 01 Capitão da Polícia Militar, o administrador da Usina, o encarregado da Segurança e 08 seguranças.

Em novembro de 2010, o Poder Judiciário de Pernambuco, depois de 12 anos ​ do assassinato​, condenou a Usina Santa Teresa e o Estado de Pernambuco pelo brutal assassinato do trabalhador rural Luiz Carlos da Silva, no município de Goiana, zona da mata de Pernambuco em 1998. De acordo com a juíza Mariza Silva Borges  “é fato notório a ocorrência em que o agricultor Luiz Carlos da Silva foi vítima de homicídio, em terras da Usina Santa Tereza, sendo os causadores policiais militares e empregados do Engenho pertencente à Usina Santa Tereza”.

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