Fiocruz alerta para risco de surto de dengue no Recife durante a Copa

Cruzamento entre dados de clima e notificações acenderam alerta.
Estado disse que ocorrências caem em junho e mostrou ações de combate.

Pesquisadores das áreas de clima e de saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizaram uma pesquisa que colocou o Recife entre as cidades-sede da Copa do Mundo com risco de ter surto de dengue durante o evento, junto com Natal e Fortaleza. A metodologia cruzou dados de clima e o histórico de notificações da doença. No sentido contrário à pesquisa, o histórico de dados do governo de Pernambuco aponta para queda nas ocorrências entre junho e julho — e iniciativas da Secretaria de Saúde têm o objetivo de para evitar a proliferação do mosquito transmissor do vírus.

De acordo com o pesquisador Christovam Barcellos, um dos envolvidos no estudo da Fiocruz, em fevereiro deste ano foi criado um modelo matemático para ajudar a estimar os casos de dengue que poderiam ocorrer em junho, período em que inicia o mundial. A metodologia recuperou as notificações de dengue no Brasil, entre os anos 2000 e 2013, e as relacionaram com os dados de clima (temperatura/precipitação).

Barcellos explica que as projeções mostraram que o risco de surto era baixo em Brasília, Cuiabá, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. Com risco médio apareceram as cidades de Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Manaus. Alertas de alto risco foram acionados para três cidades do Nordeste: Recife (19%), Fortaleza (46%) e Natal (48%).

No entanto, Barcellos chamou atenção para o clima atípico deste ano, o que pode afetar as previsões. “Os primeiros meses tiveram um clima quente e seco, com poucos casos de dengue. O próprio Ministério da Saúde informou que houve 80% a menos de notificações. Assim, caiu ainda mais o risco de surto onde a previsão já era baixa. Sobraram essas três cidades [Recife, Natal e Fortaleza], pois as chuvas nesses locais são defasadas, ou seja, ainda tem chuva em junho e não são locais que esfriam totalmente, então poderia ter algum risco”, disse.

O resultado da pesquisa teve repercussão internacional. No dia 16 de maio, o site da emissora inglesa BBC, por exemplo, publicou a reportagem “Brazil 2014: World Cup dengue fever risk predicted” (Brasil 2014: previsão de risco de dengue na Copa do Mundo), destacando o perigo para quem viesse ao Recife durante a Copa.

A coordenadora de Combate à Dengue da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Claudenice Pontes, rebateu a pesquisa. “Nós observamos sempre uma curva decrescente nos casos de dengue entre junho e julho [veja o quadro ao lado]. É época de chuva, mas a temperatura é amena. A gente precisa de chuva e sol quente para ocorrer a eclosão de ovos e a consequente evolução da larva para mosquito adulto. Acho que eles não levaram em consideração essa questão”, disse.

Ações contra a dengue
O pesquisador ainda destacou que, apesar de a expectativa de surto ter diminuído, não se pode descuidar no combate à dengue, já que o objetivo do estudo era permitir que Ministério da Saúde e autoridades locais tivessem tempo para implementar ações de mitigação específicas. “Acredito que, se era para ter um surto, ele já deveria ter começado. Mas não podemos nos despreocupar, porque a dengue é sempre um problema, e o estrangeiro precisa ser alertado, pois ele não conhece a doença”, comentou.

A dengue é transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti. A forma clássica da doença começa de maneira súbita e pode apresentar febre alta e dor de cabeça, com a possibilidade de aparecerem manchas vermelhas no corpo.

Eliminar criatórios das larvas, que podem aparecer em reservatórios de água nas residências, é uma das ações mais importantes para combater a proliferação do inseto — é nesses locais que estão 80% dos focos registrados pela Vigilância Ambiental do Recife.

O gerente do órgão, Jurandir Almeida, disse que recentemente foi lançada a campanha “Vapt Vupt – Contra a Dengue”. “Uma rápida inspeção do morador já seria suficiente para eliminar os criadouros. Nós já distribuímos 80 mil capas teladas para cobrir caixas d’água, tonéis. A partir de 6 de junho, equipes irão visitar locais estratégicos, como o TIP [Rodoviária], metrô, mercados, unidades de saúde, polos juninos e de transmissão de jogos, para fazer ações educativas e de tratamentos de focos, com aspiração e pulverização, entre outros.”

A Secretaria Estadual de Saúde vai monitorar as ações realizadas pelos municípios. Durante a Copa, uma equipe ficará de plantão recebendo notificações em tempo real. “Caso seja necessário, a equipe vai efetuar uma ação de bloqueio, pulverizando a fonte de infecção. Já a pessoa infectada será acompanhada no hospital. Profissionais de UPAs, hospitais regionais e grandes hospitais foram capacitados este ano para tratar de pacientes com a forma grave da doença”, apontou Claudenice Pontes.

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