Justiça encontra lista de Alberto Youssef que cita 750 obras públicas
Doleiro preso é suspeito de comandar esquema ilícito de mais de R$ 10 bi.
Para investigação, lista reforça versão de que esquema se espalha no país.
Do G1
Decisão do juiz Sérgio Moro aponta que planilha encontrada com o doleiro Alberto Youssef lista 750 obras públicas que somam quase R$ 12 bilhões, segundo reportagem do Jornal Nacional. O documento pode representar indício de que crimes de corrupção e propina atingem outros setores e empresas públicas, além da Petrobras.
No documento que cita a lista apreendida com o doleiro preso, Sérgio Moro afirma que, “embora a investigação deva ser aprofundada quanto a este fato, é perturbadora a apreensão desta tabela nas mãos de Alberto Youssef”. Segundo ele, a lista sugere que “o esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além” da estatal.
O Jornal Nacional teve acesso à tabela apreendida com o doleiro. Segundo investigadores, trata-se de um controle organizado, que descreve construtoras como clientes. Algumas dessas empresas já são investigadas e têm executivos presos. A tabela também dá detalhes sobre cada obra e valor.
O juiz Sérgio Moro afirma que ainda é cedo para dizer que houve pagamento de propina nas 750 obras que estão na lista. Mas investigadores ressaltam que a planilha reforça a versão dada por Paulo Roberto Costa à Justiça e à CPI de que o que acontecia na Petrobras ocorre no Brasil inteiro. O documento está orientando novas apurações sobre a dimensão do esquema.
Obras citadas
A tabela descreve, por exemplo, um pedido de cotação para o gasoduto Ceará-Piauí-Maranhão, com proposta enviada, segundo o documento, em março de 2010. O valor é de mais de R$ 1 bilhão. A planilha também cita como cliente a UTC Engenharia, empresa do diretor Ricardo Pessoa, que está preso e é apontado como o chefe do chamado “clube de empreiteiras” que pagava propina para ter contratos com a Petrobras. A empresa não respondeu às ligações da reportagem.
A Petrobras Netherlands, braço da Petrobras na Holanda, aparece 12 vezes nessa lista. Segundo o documento, são módulos para as plataformas P-58 e P-62. A Petrobras não quis comentar a denúncia.
O controle encontrado com o doleiro cita, ainda, obras públicas em outros países como Argentina, Uruguai, Equador, Colômbia e Angola. No caso da Argentina, há três citações de concorrência internacional do gasoduto córdoba. Segundo o documento, em uma delas há a inscrição “financiamento do BNDES”, com o valor de R$ 60 milhões em 2008. O BNDES informou que não financiou a obra na Argentina que foi citada na planilha.
Neste último caso, a cliente colocada na tabela é a construtora OAS, investigada na Lava Jato com executivos presos. A OAS não respondeu às ligações da reportagem. O documento descreve também, serviços diversos para prefeituras, governos estaduais e federa, além de empreiteiras. É um apanhado de obras que inclui, além de gasodutos, refinarias, mineração, aeroportos e portos.
A lista inclui até o Porto de Mariel, em Cuba. A planilha traz valor de R$ 3,6 milhões. O cliente, segundo o doleiro, é a Olex, a Odebrecht Logística e Exportações. A Odebrecht é a responsável pela obra pública no porto de Mariel, em Cuba. A Odebrecht afirmou que não fez qualquer pagamento a Alberto Youssef para conseguir obras no Brasil ou no exterior.
Além disso, projetos da Transpetro são citados diversas vezes. Paulo Roberto Costa afirmou à Justiça Federal que recebeu R$ 500 mil em propina das mãos do presidente licenciado da subsidiária da Petrobras, Sergio Machado.
A Transpetro declarou que não tem intermediários na realização de nenhum contrato. Sérgio Machado, presidente licenciado da Transpetro, negou as acusações de pagamento de propina. Nesta sexta-feira (5), o Conselho Administrativo da empresa aprovou pedido de prorrogação da licença dele.
Na semana que vem, o Ministério Público Federal deve oferecer as primeiras denúncias contra os executivos de empreiteiras. Os procuradores vão trabalhar durante o fim de semana para acelerar essa etapa. O passo seguinte é a Justiça decidir se os executivos vão virar réus.