Morte de promotor completa cinco meses, mas caso não foi esclarecido

Thiago Farias foi assassinado a tiros na PE-300, em outubro de 2013.

Polícia entregou inquérito ao Ministério Público, mas ninguém se pronuncia.

Nesta sexta-feira (14), completam-se cinco meses do assassinato do promotor de Justiça Thiago Faria Soares, em Itaíba, no Agreste de Pernambuco, e o caso ainda não foi esclarecido por completo. De acordo com a delegada do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) Josineide Confessor, responsável pela investigação, o inquérito foi entregue ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) no dia 14 de fevereiro. Perguntada sobre o que apontava a conclusão do inquérito, a delegada disse que não podia comentar o assunto. “Agora quem responde são os promotores. Meu envolvimento já foi finalizado desde o dia 14”, afirmou.

No dia 6 de março, uma reportagem do Diario de Pernambuco informou que o MPPE teria pedido a federalização do caso, mas eles não confirmam a informação. O G1 entrou em contato com a Polícia Federal (PF) e a corporação esclareceu que, em caso de federalização, caberia ao Ministério da Justiça determinar se a PF assumiria a investigação. O Ministério, por sua vez, informou não haver nenhuma solicitação nesse sentido no gabinete do ministro.

Novamente procurado pela reportagem, o MPPE confirmou, por meio da assessoria de imprensa, o recebimento do inquérito, mas disse que não ia se pronunciar sobre o caso.

Thiago Faria tinha 36 anos foi assassinado no dia 14 de outubro de 2013, com quatro tiros de espingarda calibre 12, quando dirigia seu carro na PE-300, de Águas Belas para Itaíba. Thiago era noivo da advogada Mysheva Martins. Ela e um tio estavam no veículo conduzido pelo promotor, mas escaparam sem nenhum ferimento. Principal testemunha do caso, Mysheva disse à polícia, na época do crime, que se escondeu e conseguiu fugir.

Quatro momentos da reprodução simulada feita pela Polícia Civil: Mysheva e o noivo vão à fazenda Esperança; na estrada, atirador dispara contra o promotor; Mysheva se esconde em barranco para não ser alvejada; ela é amparada por pessoas que passavam na rodovia (Foto: Reprodução / TV Globo)
Quatro momentos da reprodução simulada feita pela Polícia Civil: Mysheva e o noivo vão à fazenda Esperança; na estrada, atirador dispara contra o promotor; Mysheva se esconde em barranco para não ser alvejada; ela é amparada por pessoas que passavam na rodovia (Foto: Reprodução / TV Globo)

Reprodução
Em 23 de dezembro do ano passado foi feita uma reprodução simulada do assassinato do promotor, com intuito de esclarecer dúvidas da investigação. Por três horas e meia, cerca de 50 pessoas, entre representantes da Polícia Civil e do MPPE, participaram da ação — inclusive a advogada Mysheva Martins, noiva da vítima e principal testemunha do crime. Na época, a perita que coordenou a reprodução, Vanja Coelho, ficou satisfeita com o resultado.

A simulação começou na casa de Mysheva, na cidade de Águas Belas. Junto com o noivo, eles saíram pela BR-423, sentido Iati, em direção à fazenda que a advogada arrematou em leilão judicial. No local, morava José Maria Pedro Rozendo Barbosa, que seria o mandante do crime, de acordo com a investigação. Na casa da fazenda, Mysheva teria descido do carro para pegar um documento.

Essa informação de que o casal parou na fazenda antes de seguir para Itaíba foi revelada somente no dia da reprodução.

A simulação aponta que, depois dessa parada, o casal voltou para o centro de Águas Belas. O promotor Tiago Faria desceu na casa da noiva e entregou a uma pessoa o documento que estava na fazenda. Depois de passar pela feira livre da cidade, o casal parou de novo, desta vez no escritório de Mysheva. Nesse local, o tio da advogada entrou no carro.

Os três seguiram pela PE-300, no sentido de Itaíba, e foram perseguidos por um carro. O homem que estava no banco de trás desse veículo atirou com uma espingarda 12, acertando o promotor. Mysheva saiu do carro do noivo e se protegeu no barranco; o tio dela também saiu do veículo e andou pelo acostamento. Os atiradores voltaram e o homem que estava atrás atirou outras três vezes, antes de deixar o local do crime.

Um carro que passava pela rodovia parou e ajudou Mysheva. Na fazenda que fica do outro lado do acostamento, uma testemunha escutou os tiros. Essa pessoa, um agricultor, também participou da simulação, mas informou que não conseguiu ver quem atirou.

Suspeitos
Uma das linhas de investigação aponta para uma discórdia sobre a posse da Fazenda Nova, que fica em Águas Belas, também no Agreste, arrematada em um leilão pela noiva da vítima. José Maria Pedro Rosendo Barbosa, o posseiro das terras, teve de deixar o local depois de uma ação judicial. Por causa de uma dívida trabalhista na Justiça Federal, Mysheva Martins conseguiu comprar a sede da fazenda. Nesse processo, ela teria recebido ajuda do noivo, o promotor Thiago Faria. Na desapropriação, ele esteve na fazenda com um oficial de Justiça. Irritado com o caso, José Maria Pedro Rosendo Barbosa, segundo a polícia, teria encomendado a execução do promotor. Até o momento, José Maria encontra-se foragido.

Edmacy Cruz Ubirajara, suspeito de disparar contra o promotor, foi solto no dia 18 de dezembro. Ele havia sido detido dois dias após o crime e estava no Centro de Triagem (Cotel) de Abreu e Lima, Grande Recife. A liberdade provisória foi concedida pelo Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe (TJSE). A decisão, expedida no dia 16 de dezembro, é do juiz da 5ª Vara Criminal, Diógenes Barreto.

Na época do assassinato de Thiago Faria, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) pediu a prisão preventiva de Edmacy Ubirajara alegando que ele tinha voltado a praticar outro delito de natureza grave no estado. No entanto, após os advogados do suspeito terem pedido a liberdade provisória, o MPPE fez nova análise e informou ao magistrado “que não mais subsistem os requisitos para segregação cautelar do indigitado posto que não houve até o momento deflagração de ação penal em desfavor do acusado perante a Justiça pernambucana”.

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