No Recife, torcedores aproveitam baixa fiscalização e conivência dos clubes para burlar Lei Seca nos estádios

No Brasil, acompanhar uma boa partida de futebol consiste em um ritual sagrado para os amantes da bola, que é passado de geração em geração. Batucada, espetinho e cerveja sempre foram os acompanhamentos preferidos do esporte mais popular do país. Entretanto, esta tríade foi quebrada com a implementação da Lei Seca na maioria dos estádios brasileiros.

A medida é de caráter estadual e Pernambuco a aderiu em março de 2009, quando o projeto de Lei Ordinária 932/09 foi aprovado por unanimidade na Assembléia Legislativa e sancionado pelo governo do estado na lei nº 13.748. Apesar da proibição, é comum observar torcedores consumindo bebidas alcoólicas sem serem incomodados, tanto na Ilha do Retiro como no Arruda, que não contam com uma fiscalizacão mais rigorosa, como a que é aplicada na Arena Pernambuco.

Nos setores de arquibancada e cadeiras, a bebida escolhida pelos infratores é o uísque, que pode ser transportado mais facilmente, em vasilhames do tamanho de uma carteira. Já nos camarotes, a fartura é maior. Além do destilado, latas de cerveja entram em recipientes de isopor individuais e fazem a festa dos torcedores mais “privilegiados”.

ientes do veto, quem ingere álcool nas praças esportivas procura mascarar o ato. Coloca-se o líquido nos copos de plástico, que são distribuidos para a comercialização de refrigerante e água pelos vendedores regulamentados, conhecidos como “gasoseiros”. Além de providenciarem o copo e o gelo, os ambulantes também traficam bebidas para dentro dos estádios. A multa prevista para esta tipo de comércio é de mil reais.

“Na maioria das vezes, os gasoseiros não oferecem nada que não seja permitido. Perguntamos pelo produto e só aí eles negociam. Normalmente, uma garrafinha de uísque nacional custa trinta reais”, disse um torcedor do Santa Cruz que não quis se identificar.

Questionado sobre a comercialização não oficial e a entrada de bebidas alcoólicas nos camarotes, o presidente coral Antônio Luiz Neto limitou-se a declarar, demonstrando irritação:

“Desconheço este assunto. Não vou me pronunciar sobre uma coisa que não tenho conhecimento”.

Pelo lado do Sport, o gerente administrativo Genivaldo Cerqueira não quis comentar a denúncia. Já o presidente Gustavo Dubeux afirmou:

“Tenho camarote na Ilha e não bebo porque quero dar o exemplo. Se alguém está levando bebidas alcóolicas ao estádio, eles estão infringindo uma lei. A fiscalização tem que ser feita pela Polícia Militar e o clube não pode ser responsável por essas pessoas que agem de maneira incorreta”.

A Federação Pernambucana de Futebol se absteve do caso, jogando a responsabilidade para os clubes e a PM. A entidade se disse ampada pelo parágrafo número um, do primeiro artigo da lei 13.748, que diz:

“São responsáveis pela fiscalização e monitoramento do cumprimento do disposto no caput deste artigo, sem prejuízo ao Estatuto do Torcedor, os administradores dos estádios de futebol, ginásios esportivos, bem como a autoridade policial e a guarda municipal presente ao local.”

Nas catracas de acesso da Ilha do Retiro e do Arruda, a revista feita pelo Tropa de Choque da Polícia Militar se resume à uma “levantada de camisa” dos torcedores. Quando alguém está portando boné ou mochila, os itens são revistados. Já no acesso às cadeiras e camarotes, em ambos os estádios, são seguranças particulares do clube que fazem o controle da entrada dos torcedores.

A assessoria de comunicação da Polícia Militar foi procurada pelo Blog do Torcedor tanto na terça-feira (19), quanto na quarta (20). Em virtude das comemorações do Dia da Bandeira e de uma mobilização de todo o efetivo para conter uma manifestação em Paulista, Região Metropolitana do Recife, a PM ficou de se pronunciar posteriormente à publicação da reportagem.

Segundo dados do Ministério Público de Pernambuco, houve uma diminuição de cerca de 70% das ocorrências policias dentro dos estádios, após a proibição. A informação é constestada pelos que são à favor da venda de bebidas, que argumentam que com o veto, os torcedores tendem a se embriagar antes da partida e que, na Copa do Mundo, o álcool é liberado.

A discussão sobre a efetividade da Lei Seca nos estádios ainda gera polêmica. A certeza, porém, é que somos o país do futebol, do samba, do espetinho e da cerveja. Mas também somos, sobretudo, o país da vista grossa e do “jeitinho” para tudo. Seja na bancada parlamentar ou numa simples arquibancada.

Do Blog do Torcedor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *