Obra da Refinaria Abreu e Lima para, e 1.200 são demitidos
Qualiman Engenharia rescindiu contrato com a Petrobras com a alegação de que não recebeu pagamento devido. Trabalhadores foram demitidos por telefone
Da Folha PE
Mais 1,2 mil trabalhadores entraram para a lista do desemprego nessa segunda-feira (10) em Pernambuco. Todos por conta de um novo impasse financeiro nas obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest). É que a Qualiman Engenharia rescindiu o contrato de construção da Unidade de Abatimento de Emissões (Snox) do empreendimento com a Petrobras – a obra que mais gerava empregos em Suape atualmente -, alegando o não pagamento dos valores devidos pela estatal.
“A Qualiman disse que suspendeu o contrato porque não estava recebendo todas as medições da Petrobras e, por isso, não tinha mais condições de tocar o projeto. Segundo a empresa, já são mais de R$ 100 milhões em medições atrasadas”, revelou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada em Pernambuco (Sintepav-PE), Aldo Amaral, que recebeu a notícia por e-mail nessa segunda. “Os trabalhadores foram avisados pelo telefone”, reclamou Amaral, contando que os motoristas dos ônibus que fazem o transporte dos funcionários também foram liberados por falta de pagamento.
Quatro anos depois da desmobilização de obras que deixou mais de 40 mil pessoas desempregadas em Suape, portanto, algo semelhante voltou a acontecer: 1,2 mil pessoas perderam o emprego num único dia no complexo industrial. “E mais 400 já haviam sido demitidos ao longo do ano”, revelou Amaral.
Por conta disso, o sindicato vai entrar com uma medida cautelar na Justiça do Trabalho para pedir que o pagamento dos trabalhadores seja priorizado no acerto de contas entre a Qualiman e a Petrobras. A categoria ainda deve se reunir na refinaria nesta terça-feira (11) para avaliar a situação e recolher os pertences deixados no empreendimento. “Temos medo que, por conta desses problemas, a empresa não tenha dinheiro para pagar todas as rescisões”, explicou o presidente do Sintepav-PE.
Vale lembrar que a empresa que tocava as obras da Snox antes da Qualiman – a Alumini Engenharia – envolveu-se na Operação Lava Jato e acabou entrando em recuperação judicial, o que atrapalhou os pagamentos rescisórios. Foi por isso que, quando a Petrobras anunciou que a Qualiman retomaria a construção da Snox no início do ano passado, uma multidão correu para a sede da empresa para se candidatar a uma das 1,6 mil vagas do projeto.
Procurada pela reportagem, a Qualiman não se posicionou sobre o assunto até o fechamento desta matéria. Já a Petrobras garantiu estar com as contas em dia e disse que os problemas financeiros partiram da empreiteira. “A empresa alegou dificuldades financeiras para prosseguir com as obras do empreendimento. A Petrobras esclarece que cumpriu todos os requisitos e obrigações contratuais com a Qualiman Engenharia e Montagens Ltda”, afirmou a estatal, que recebeu a notificação da rescisão contratual no domingo (9).
A Petrobras ainda disse que “está tomando as medidas cabíveis e avaliando alternativas para a retomada das obras”. Afinal, a Snox é fundamental para o funcionamento da Rnest. Sem essa estrutura, a refinaria fica limitada a processar 100 mil barris de petróleo por dia – a capacidade imaginada para o empreendimento, no entanto, era de 230 mil barris/dia quando os dois trens de refino estivessem em funcionamento (até agora, só um trem foi construído). Mesmo assim, antes mesmo do impasse com a Qualiman, a Petrobras só esperava concluir a Snox em junho de 2019.