Para campanha de Dilma, redução de votos válidos pode ajudar reeleição
A onda de protestos que tomou conta do país em junho pode trazer um reflexo positivo para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Integrantes da campanha petista avaliam que o crescimento da abstenção e de votos brancos e nulos no pleito de 2014 pode ajudar Dilma, ao invés de prejudicá-la.
Isso porque o provável aumento da alienação eleitoral, como reflexo da insatisfação do eleitor, irá diminuir o número de votos válidos. Nesse cenário, o maior beneficiado passa a ser o líder nas pesquisas, pois precisará de uma quantidade menor de votos para poder se eleger.
Essa onda de insatisfação só passa a beneficiar a oposição se algum candidato conseguir canalizar esse sentimento, como aconteceu num primeiro momento com a ex-senadora Marina Silva (Rede), que está fora da disputa.
O analista político Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois e consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional faz um alerta neste sentido. “A presidente Dilma Rousseff, leva grande vantagem com a diminuição dos votos válidos, pois pode transformar a liderança que exibe nas pesquisas eleitorais em uma menor quantidade de votos suficiente para ganhar no primeiro turno”, observou Romão.
Ele lembra que no primeiro turno da eleição presidencial de 2010, houve 18,1% de abstenção e 8,7% de votos brancos e nulos. “Os recentes protestos de junho, com forte mensagem de ‘antipolítica’, indicam que o percentual tende a aumentar”, ressalta. “Se em 2010 o alheamento eleitoral tivesse sido de 30%, ao invés de 27%, a presidente Dilma teria sido eleita no primeiro turno”.
Segundo ele, os exemplos recentes de antipolítica na América Latina e em Portugal, onde o povo está indo às ruas em grandes manifestações, reforçam a preocupação com a ocorrência do fenômeno no Brasil. “Por exemplo, a abstenção, apenas para citar um componente da alienação, foi bastante elevada nas eleições presidenciais do Chile (56% no primeiro turno e 53% no segundo) e de Honduras (40%), nas eleições municipais da Venezuela (41,7%) e de Portugal (47,4%), e nas proporcionais da Argentina (25%)”, recordou Romão.
Ao Blog, ele fez duas projeções para 2014. Na primeira, considerando o mesmo percentual de 2010 de abstenção, brancos e nulos (27%) numa projeção estimada de 142 milhões de eleitores: os votos válidos somariam cerca de 104 milhões; e o líder na corrida presidencial precisaria de 52 milhões de votos para faturar o pleito no primeiro turno.
Na segunda projeção, considerando um crescimento no percentual de abstenção, brancos e nulos para 40% do universo total de eleitores: os votos válidos somariam 86 milhões de votos; e o líder na corrida presidencial se elegeria no primeiro turno com 43 milhões de votos. “Com a redução dos votos válidos fica mais fácil para quem lidera a corrida majoritária atingir 50% mais um dos votos, encerrando a disputa no primeiro turno”, reforçou o analista Maurício Romão.
Do Blog do Camarotti