‘Pensei que ia morrer’, diz inocente que foi linchado em Araraquara, SP

Ajudante geral de 37 anos recebeu alta após quatro dias internado.
Polícia pediu a prisão temporária de cinco suspeitos de envolvimento.

Com dores, rosto ferido, nariz quebrado e lesões por todo o corpo, o ajudante geral Mauro Muniz, de 37 anos, ainda tenta entender os motivos de ter sido linchado por moradores do bairro Maria Luiza, em Araraquara (SP), no domingo (11).

Após quatro dias internado, ele recebeu alta e contou ao G1 os momentos de angústia que sofreu durante a agressão, que ocorreu depois que o irmão dele supostamente bateu na esposa. “Pensei que ia morrer, mas Deus é tão grande que não deixou”, disse. A Polícia Civil pediu a prisão temporária de cinco suspeitos de participar da violência e a apreensão de dois menores.

Ainda com dificuldades para se locomover, Mauro contou que só se lembra do momento em que saiu de casa para conversar com cerca de 15 pessoas que procuravam o irmão dele, Luciano Muniz, porque ele teria agredido a esposa com socos e pontapés na rua. “Eu cheguei lá para saber o que tinha acontecido, me jogaram um banco de madeira, pedaço de tijolo e de pau, de ripa. Não falaram nada, chegaram batendo.

Não tive nem como reagir. Uma menina me deu a primeira paulada na cabeça e desmaiei”, relatou Muniz.

O ajudante geral afirmou que a irmã dele, Vanessa Cristina Muniz, que também foi agredida, evitou que um homem passasse com uma moto por cima de sua cabeça. “Ela disse que tentou me defender, se jogou em cima de mim e disse que ele teria que atropelar nós dois. Ela saiu machucada também”, lamentou. Vanessa foi medicada e liberada.

Dúvidas
Muniz ainda não sabe se os agressores o confundiram com seu irmão ou se sabiam de sua inocência e queriam apenas se vingar. “Eu sou muito parecido com meu irmão, mas os que me defenderam, me falaram que as pessoas queriam me bater por eu ser irmão dele. Já que meu irmão não aparecia, eu ia apanhar no lugar dele”.

O ajudante, que teve traumatismo craniano e múltiplas fraturas, está tomando vários medicamentos e deve passar por mais uma série de exames. Ainda sem saber quando poderá voltar a trabalhar, ele apenas quer que os envolvidos sejam punidos.

“Espero que a polícia faça a parte dela. Que seja feita a justiça”, completou.

Inocente
O caso aconteceu na noite de domingo. A família Muniz estava reunida para passar o Dia das Mães, quando Luciano – irmão de Mauro – teria começado a brigar com a esposa. O homem, de 33 anos, teria dado socos e pontapés na mulher no meio da rua.

Segundo o boletim de ocorrência, revoltados, cerca de 20 moradores tentaram linchar o homem, mas ele conseguiu fugir. Mesmo assim, as pessoas não desistiram da vingança.

A dona de casa agredida pelo marido disse ao delegado na terça-feira que em nenhum momento o cunhado bateu nela e disse que estranhou quando soube que Mauro tinha sido linchado.

Duas testemunhas afirmaram em depoimento à polícia que os suspeitos sabiam que Mauro era inocente e, mesmo assim, partiram para a agressão. “Ficou um povo de 30 a 40 pessoas na esquina. O policial ainda falou para não deixar ele aparecer que o pessoal iria linchá-lo. E a turma falou: ‘não vamos matar ele. Não é o outro, mas é o irmão dele, vamos linchar ele, vamos linchar ele’. E pedra, pau e cacetada”, explicou.

Uma mulher, que também viu o crime e não quis se identificar, disse que chegou a avisar os agressores que o homem era inocente, mas foi surpreendida. “Falaram para ele: Já que seu irmão não foi homem suficiente para estar aqui, então você vai apanhar no lugar dele”.

Investigação
O delegado responsável pelo caso, Elton Negrini, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), disse que sete pessoas estão envolvidas na agressão. Todos irão responder por tentativa de homicídio. A Polícia Civil pediu a prisão temporária dos cinco maiores de idade e a apreensão de dois adolescentes.

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