PMs acusados de matar servente vão a julgamento em SP
Caso aconteceu no Campo Limpo, na Zona Sul, em novembro de 2012.
MP afirma que já estava dominado quando foi assassinado.
O julgamento de quatro policiais militares acusados de matar um servente de pedreiro, no Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo, em novembro de 2012, começa nesta segunda-feira (16) no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste da capital paulista. O Ministério Público diz que Paulo Batista do Nascimento já estava dominado pelos policiais quando foi atingido por tiros que saíram das armas dos PMs. Defesa deve sustentar que disparos foram acidentais.
O início dos trabalhos está previsto para as 13h desta segunda. A previsão é que 13 pessoas sejam ouvidas- cinco de acusação e oito de defesa. Os quatro réus serão interrogados: o tenente Halstons Kay Yin Chen, que comandava a operação, e os soldados Francisco Anderson Henrique, Marcelo de Oliveira Silva e Jailson Pimentel de Almeida. Os debates entre acusação e defesa devem acontecer na terça-feira (17).
Na manhã de 10 de novembro de 2012, na época, a corporação disse que dois PMs que estavam em motos foram abordar um carro roubado e acabaram recebidos à bala. Na perseguição, dois suspeitos morreram e outro foi preso.
Na primeira versão da polícia, o servente Paulo Batista do Nascimento, de 25 anos, foi encontrado morto em uma viela depois da troca de tiros. Ele já tinha sido condenado por roubo, receptação e falsificação de documentos.
Imagens feitas por um cinegrafista amador mostraram, porém, revelou que Paulo foi cercado pelos policiais ainda vivo em uma casa. As imagens mostram que os policiais tentam colocá-lo na viatura, mas ele resiste.
Um dos PMs dá um tapa no rosto do suspeito e outro, um chute. Paulo implora para ser solto. Ao lado do carro da polícia, um policial ergue os braços em posição de tiro. Não dá para ver o disparo, mas é possível ouvir o barulho.
O Bom Dia São Paulo teve acesso ao processo que tem cerca de 3 mil páginas. De acordo com o relatório final da investigação, dois policiais em patrulhamento desconfiaram de três rapazes em um carro. Os PMs disseram ter dado ordem de parada, mas os suspeitos teriam tentado fugir.
Foi quando começou uma perseguição e uma troca de tiros. Um dos suspeitos morreu no local. Mesmo feridos, Paulo e um outro homem fugiram a pé. Paulo se escondeu em uma casa.
O promotor Felipe Zilberman defende a tese de que depois de ser capturado, Paulo foi assassinado. “Esses policiais executaram a vítima com cinco disparos de arma de fogo, efetuados quando ela já se encontrava completamente dominada, rendida, desarmada e implorando para não ser morta”, declarou.
A Corregedoria da Polícia Militar concluiu que os soldados Marcelo de Oliveira Silva, Jailson Pimentel de Almeida disparam de “forma covarde e vil” quando ele já estava dominado.
Com base nos depoimentos e em parte do que o GPS do carro da polícia registrou, a perícia montou um mapa com o percurso do carro desde a rua em que Paulo foi capturado até o Hospital do Campo Limpo. Um desvio indicaria que o carro parou em rua com pouco movimento. Nesse ponto, Jailson Pimentel de Almeida teria aberto o porta-malas e voltado a atirar na vítima. Perícia constatou que o porta-malas havia sido lavado. Os peritos não encontraram vestígios de pólvora, mas havia sinais do sangue de Paulo espalhados por toda a parte.
Os policiais foram presos e acusados de homicídio duplamente qualificado: por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima. O Comando da Polícia Militar foi procurado pelo Bom Dia São Paulo, mas não quis se pronunciar sobre o assunto. A defesa, que não quis gravar entrevista, deve sustentar que os disparos foram acidentais. “Afirmar-se que todos esses disparos foram dados de maneira acidental é um deboche, um escárnio com a Justiça”, disse o promotor.
Do G1