Por quórum, Temer estimula até voto opositor e abstenção

Da Folha de São Paulo

O governo começou a estimular a presença até de deputados contrários a Michel Temer na Câmara para garantir quórum para a votação da denúncia contra o presidente nesta quarta-feira (2).

Certo de que não haverá 342 votos para dar seguimento ao processo por corrupção, o Palácio do Planalto passou a pedir que compareçam e votem mesmo aqueles parlamentares da base que vão se posicionar contra Temer.

Além disso, líderes governistas pediram a deputados que ameaçavam se ausentar que eles também marquem presença, mas declarem abstenção na hora de pronunciar seus votos no microfone – o que conta para o quórum.

Auxiliares de Temer decidiram flexibilizar sua estratégia devido às dificuldades para atingir o mínimo de 342 parlamentares necessário para abrir a votação.

Com essa articulação, Temer quer colocar entre 290 e 300 deputados no plenário –mesmo que nem todos sejam seus apoiadores– e constranger a oposição a também marcar presença, chegando ao número mínimo para que a denúncia seja votada.

Se a estratégia não for bem-sucedida, deputados governistas pretendem culpar o PT e outros partidos pelo fracasso da votação, alegando que eles contribuem para ampliar a instabilidade no país.

Temer e seus auxiliares decidiram aceitar um número maior de abstenções e votos contrários, abrindo mão de um placar mais vantajoso em troca da chance de encerrar o episódio o quanto antes.

Apesar de adotar uma posição mais flexível, o Planalto ainda tenta construir um placar de 257 votos a favor do presidente – o que representa metade do plenário.

Os deputados que votarem com Temer serão recompensados em uma recomposição da base aliada.

Denúncia contra Temer deve ser discutida em plenário na quarta (2)

Em conversas recentes, o presidente deu novos sinais de que pretende redistribuir os espaços do governo para dar mais poder àqueles que reforçarem sua defesa.

“Quem está verdadeiramente com o presidente deve votar contra a denúncia”, diz o líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE).

Para chegar a um placar mais robusto, Temer vai tentar conquistar votos em dois partidos em que cresceu a oposição ao governo: PSB e PSDB. O objetivo é obter metade do apoio em cada uma dessas bancadas.

Entre os tucanos, 20 dos 46 declararam à Folha que votarão contra Temer. Sete serão favoráveis ao presidente e 19 não se pronunciaram. No PSB, 20 parlamentares disseram votar a favor da denúncia. Outros sete são contrários e 19 não declaram voto.

Oposição

A oposição ameaçava não marcar presença no plenário, para tentar inviabilizar a votação, mas não houve consenso entre os partidos. Para tentar unificar a atuação, líderes oposicionistas marcaram reunião para esta terça (1º).

Deputados oposicionistas reclamam especialmente do comportamento do PT, que gostaria de derrubar Temer, mas também tenta prolongar o processo para aumentar o desgaste do presidente até as eleições de 2018. “O Temer é o maior cabo eleitoral do PT, tanto que a sigla cresceu nas últimas pesquisas”, afirma Ivan Valente (PSOL-SP).

O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), nega que haja movimento do partido para deixar o governo “sangrar”, mas também não garante que a sigla contribuirá para o quórum da sessão.

“Para nós, o objetivo é que o governo se encerre o mais rápido possível”, afirmou.

Segundo Alessandro Molon (Rede-RJ), a estratégia da legenda é que a votação se dê na própria quarta. “Queremos que a votação seja no fim do dia, quando mais pessoas já estão em casa e podem ver como votará seu parlamentar.”

Já o PSOL prega que a votação seja adiada até o recebimento de uma segunda denúncia contra Temer.

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