Professor usa pintura corporal para ensinar anatomia a alunos no RS
Músculos, ossos e cartilagem são pintados no corpo de modelo por artista.
Universidade opta por não usar cadáver para ensino na área da saúde.
Divididos em grupos, alunos de primeiro e segundo semestres de fisioterapia pesquisam as respostas para questões de anatomia lançadas pelo professor. Bonecos para o estudo do corpo humano estão distribuídos na sala, assim como um armário repleto de materiais para a disciplina. A principal atração, no entanto, está na pintura de músculos, ossos e cartilagem feita por uma artista nas costas de um modelo. Os estudantes não aprendem em cadáveres, mas sim com pessoas vivas. O bodypainting (pintura corporal) é utilizado dentro da metodologia de ensino na área da saúde na UniRitter, em Porto Alegre.
O G1 acompanhou a aula ministrada pelo professor e coordenador do curso de fisioterapia da universidade, Fabrício Duarte. Diferenciadas, as aulas com pintura corporal são agendadas. Tanto a artista como o modelo são contratados e recebem pela participação.
“Com todo respeito ao cadáver, não se vê diferenciação de músculo, cartilagem, escápula. No ser vivo, sim”, justifica o professor, que só vê vantagens na técnica utilizada. Além da UniRitter, a Fadergs, da mesma rede (Laureate International Universities), aplica a metodologia no Rio Grande do Sul.
Conforme Fabrício, que é de Minas Gerais e vive em solo gaúcho há 10 anos, a pintura corporal começou a ser usada nos Estados Unidos. No Brasil, a pioneira foi a Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.
O uso de cadáveres nos estudos da área da saúde é permitido por lei, que sofreu alteração em 2007, quando ficou definido que o cadáver não reclamado junto às autoridades públicas no prazo de 20 dias poderia ser destinado às escolas. A opção das universidades da rede Laureate em não usar corpos de pessoas mortas foi, segundo o professor e coordenador, para mesclar aprendizagem técnica com a ética no contato dos alunos com outras pessoas.
Segundo ele, as aulas práticas com pessoas vivas, além de atrair maior atenção dos alunos, trabalham a conduta e o respeito no grupo. “O respeito muda, a aula cria essas situações”, diz. “Isso é validado cientificamente.
Temos que buscar conduta ética. A técnica se constrói com a formação, mas ética vem de berço”, completa Fabrício, que afirma não ser contrário ao uso de cadáveres, apesar da opção por não trabalhar com corpos em aula.
A aula acompanhada pelo G1 contou com a participação do modelo Matheus Vieira, de 19 anos, que teve as costas pintadas pela artista Amanda Loss, de 23, que estuda design na UniRitter. Mas mulheres também participam. Conforme o professor, nestes casos os seios são tapados, assim como qualquer outro fator que possa desviar a atenção, como piercings e tatuagens.
“Nunca tive problema nas minhas aulas. Mas não podemos nos intimidar em chamar a atenção, em pedir foco no que é estudado”, ressalta.
De pé durante mais de uma hora, de costas para os alunos e cumprindo orientações do professor com movimentos durante as explicações da disciplina, Matheus garante que se sentiu confortável. Foi o primeiro convite que o modelo, que dá aulas de jogos digitais, recebeu. “Achei a metodologia muito interessante, dá até para aprender um pouco”, comenta.
Amanda Loss começou a pintar corpos nas aulas da Fadergs, e em seguida foi chamada para participar na UniRitter. “Meu professor de desenho que me indicou. Ainda estou aprendendo, mas a gente pensa que é mais complicado, e não é”, diz. “Sempre fui muito interessada nessa área, então é bom juntar o desenho com algo importante para o ensino”.
Após as pesquisas em livros e tablets, cada grupo fala sobre as questões que pesquisou durante a aula, e as demonstrações são feitas no modelo. Mas o professor também utiliza outras tecnologias, como projeções digitais- e apresentação de placas de Raio-X, além dos bonecos anatômicos.
Estudante do primeiro semestre, Davi Barbosa Prates, 33 anos, morador de Canoas, assistiu à aula pela primeira vez e aprovou. “Fiquei sabendo da metodologia quando entrei (na universidade). Acho bom, é possível ter a noção do movimento. É bem mais didático, o cadáver não mexe”, compara.
Os outros alunos que conversaram com o G1 compartilham da mesma opinião de Davi. “Achei interessante e mais fácil para o aprendizado. É diferente de livro, de boneco”, comenta a estudante do primeiro semestre Silvana Gehling, 45 anos, de Porto Alegre. “É melhor, diferente de visualizar o que nas peças não conseguimos”, diz Vanessa Becker, de 17, que cursa o segundo semestre e também mora na capital gaúcha.
Para Fabrício, a oportunidade de alunos que estão começando a faculdade aprenderem na prática a profissão ajuda na sequência do curso. “Eles ainda estão longe da prática, mas com a metodologia fazem um link dentro do dia a dia e até arriscam diagnósticos quando indagados”, resume.
Além de costas, os modelos também podem ter pernas, braços e face pintados, dependendo da aula. A área da saúde, a UniRitter tem os cursos de Biomedicina, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Psicologia e Medicina Veterinária.
Do G1