Reportagem especial // O abate, a comercialização e a qualidade da carne na região do Pajeú
Durante esta semana aumentou o debate sobre a qualidade da carne que é consumida na região, o abate da carne e a comercialização.
O Abatedouro Regional de Afogados da Ingazeira, a Vigilância Sanitária, a Prefeitura de Tabira e o Ministério Público estiveram diretamente ligados a este aumento e ficaram no olho furação.
Protesto
Na última segunda-feira (12) um protesto de marchantes interditou a PE 320, na altura da comunidade de Riacho do Gado, município de Tabira. Eles protestaram alegando que o acordo feito com o MP para abate de carne bovina no Abatedouro Regional de Afogados da Ingazeira, que começou no último dia 9, estaria causando prejuízos e deixando de ser cumprido integralmente pelo Matadouro.
Mais cedo, eles já haviam demonstrado revolta com a qualidade de peças de carne recebidas dos animais abatidos no matadouro de Afogados da Ingazeira. Segundo relatos dos próprios comerciantes, as carnes vieram estragadas a ponto de causar mau cheiro. Carne azulada e peças sem o tratamento devido estiveram entre as reclamações mais comuns.
O promotor Lúcio Luiz de Almeida Neto foi ao local, pois os marchantes exigiram a sua presença para renegociar o abate.
Os marchantes conseguiram a retomada provisória do abate em Tabira, sob algumas condições impostas pelo MP.
Também deverá ser apurada a condição de transporte da prefeitura da Tabira a Afogados. Há relatos de má vontade e corpo mole para o transporte, piorando a situação.
O Abatedouro
Diante das reclamações dos marchantes de Tabira de que as vísceras dos animais abatidos no Abatedouro regional localizado em Afogados da Ingazeira chegaram com mau cheiro e com os mocotós cheios de pelos, o radialista Anchieta Santos (Programa Cidade Alerta) ouviu o veterinário Rivelton Santos.
Falando em nome do Abatedouro, Rivelton disse que o abate feito na sexta-feira seguiu o processo normal. As queixas são provenientes de falhas no transporte que segundo o veterinário é de responsabilidade da Prefeitura de Tabira.
O profissional detalhou que o carregamento do carro é feito por trabalhadores também da prefeitura. “Na sexta, o carro chegou sem os trabalhadores. Profissionais do abatedouro paralisaram suas atividades para efetuar o trabalho. A carne foi levada na primeira viagem”.
Segundo Santos, as vísceras seriam transportadas na segunda viagem, o que acabou não acontecendo pois o motorista não aceitou esperar 40 minutos. A informação é de que ele alegou que não perderia tempo e foi brincar o Afogareta, o Carnaval fora de época de Afogados.
O terceiro problema apontado pelo veterinário foi a arrumação da carne no piso do carro. O transporte aconselhado é sob armação de ferro que cedeu. Ontem era dia de abate de animais de Tabira que deveriam ter dado entrada no Abatedouro no domingo, o que não aconteceu.
Rivelton completou dizendo que o Abatedouro Regional atende hoje os municípios de Afogados, Iguaraci, Ingazeira e Quixaba e que no primeiro momento é normal o impacto, quando sai do tradicional.
O prefeito de Tabira
Diante dos acontecimentos o prefeito de Tabira, Sebastião Dias, falando ao comunicador Anchieta Santos na Rádio Cidade FM, disse que na segunda-feira, recebeu o oficio 009/2015 do MP assinado pelo Dr. Lucio Luiz de Almeida, solicitando que adotasse as providencias necessárias no sentido de garantir que o abate dos animais de Tabira fosse realizado no Abatedouro de Afogados da Ingazeira, sob pena de responsabilização.
O gestor disse que na segunda feira recebeu o ao mesmo tempo os marchantes que resistiram em levar o gado para Afogados. O gestor seguiu falando que diante do impasse, convidou Dr. Lucio para uma reunião às 19h30 da noite da segunda feira. Com os marchantes reunidos, a vice prefeita Genedy Brito disse que o Dr. Lucio estaria chegando no final da tarde para a reunião, o que segundo o prefeito atrapalhou tudo.
“Às 18hs, sem o promotor chegar, o protesto se deu com o fechamento da estrada”.
Sebastião Dias declarou que não sabia das queixas contra o transporte da carne, quando o motorista teria se negado a esperar 40 minutos pelas vísceras na segunda viagem, nem que o suporte do carro da carne teria quebrado e a carne foi transportada no piso.
Ainda disse que não tinha conhecimento da responsabilidade da Prefeitura de enviar trabalhadores para fazer o carregamento.
Dias disse que as falhas da prefeitura podem ser corrigidas, e ao mesmo tempo entrou em contradição ao dizer que com a carne que o Abatedouro de Afogados entrega, não aceita continuar.
Em atitude inédita o Prefeito Sebastião Dias disse que iria tentar juntar todas as lideranças políticas da cidade em torno da construção de um novo Abatedouro. Dos dois que existem na cidade, um está interditado e outro não atende as exigências da vigilância sanitária.
O Governo Sebastião Dias bancará o projeto arquitetônico; o Presidente da Câmara Marcos Crente fará a doação do terreno. As demais lideranças serão chamadas a convocar os seus deputados a apresentarem emendas em defesa do abatedouro.
O desáfio
“O atual matadouro de Tabira não tem a menor condição de funcionar”. A declaração é do empresário Jose Arimateia da Silva (Téa da Damol). Em contato por telefone com as produções dos programas Rádio Vivo e Cidade Alerta, Téa disse que gestões passadas, como a de Josete Amaral, tiveram condições de construir um abatedouro ideal para o município e não o fizeram.
Hoje, continuou Téa, o matadouro não tem higiene nenhuma, e os trabalhadores atuam em condições sub-humanas. E até lançou um desafio: “Gostaria de ver os que defendem o funcionamento do matadouro de Tabira, escalar alguém de sua família para trabalhar lá, nas atuais condições”.
O que está havendo é uma briga boba com Afogados (Abatedouro Regional) que não leva a nada segundo ele. Téa até disse que a Vigilância Sanitária é que, ao contrário do MP deveria estar tomando a frente dessas discussões sobre o matadouro de Tabira.
A volta
O abate de carnes dos marchantes de Tabira voltará a ser feito no Abatedouro Regional de Afogados da Ingazeira no próximo dia 19. A informação foi confirmada ao blog do Nill Júnior pelo Diretor do Abatedouro, Carlos Vandré.
O encontro aconteceu na tarde de ontem e reuniu além da Direção do Abatedouro, o promotor Lúcio Almeida, o prefeito de Tabira, Sebastião Dias, o Presidente da Câmara Marcos Crente e representantes dos marchantes.
Segundo ele, a adaptação inicial ao processo acabou causando tudo isso. Ele disse que houve erro de comunicação e não de abate. “Houve algumas falhas no processo que foram causadas pela falta de entrosamento de ambas as partes”. Também destacou que desde o início havia resistência dos tabirenses em fazer o abate em Afogados. “No final houve entendimento”, afirmou.
Uma nova avaliação será feita dia quatro de fevereiro, conforme acertado em ata.
Os resistentes
Uma informação que surgiu hoje indica que depois de Tabira, que cedeu e passará a fazer definitivamente o abate em um Abatedouro Regional instalado em Afogados da Ingazeira, há duas outras cidades que ainda resistem ao abate na unidade, colocando em risco a população pela péssima qualidade da carne abatida em matadouros sem condições sanitárias adequadas.
Uma é Flores, gerida pela prefeita Soraya Murioca (PR) e a outra, Solidão, administrada pela socialista Cida Oliveira. Nos dois casos, tem havido resistência à ideia de abater os animais na unidade regional que detém condições de entregar uma carne com as mesmas condições sanitárias e de higiene dos grandes abatedouros do país.
Ao contrário, preferem o abate em locais sem a condição mínima de higiene. Como resistem, as prefeituras deverão ser enquadradas pelo Ministério Público, sob pena de crime de improbidade. Enquanto isso, a população corre riscos com uma carne de péssima qualidade, com riscos para a saúde.
A estruturação da Vigilância Sanitária
Um problema histórico ao que parece finalmente será resolvido: a equipe insuficiente da Vigilância Sanitária do município, que conta só com três profissionais para fiscalizar uma cidade pólo como Afogados da Ingazeira, será restruturada.
Pelo menos foi o que informou a atual coordenadora, Aline Alves, nos estúdios da Pajeú na manhã de ontem (15).
Segundo ela, após reunião, o prefeito José Patriota prometeu estruturar física e humanamente a equipe, que hoje é historicamente deficitária diante da quantidade de demandas: dentre elas, fiscalizar a comercialização de carne nos açougues da cidade, acompanhar supermercados, animais soltos, alertar para epidemias, além de uma outra gama de atribuições. “A partir da estruturação será melhorada a fiscalização”, garantiu.
Além de Aline, participaram Madalena Brito e Edvaldo Bezerra também da Vigilância Sanitária, o médico veterinário Rivelton Santos e o diretor do Abatedouro Regional de Afogados da Ingazeira Carlos Vandré.
Este último aproveitou a oportunidade para esclarecer os últimos acontecimentos em Tabira e como é feito o abate hoje em dia.
Ouça abaixo o debate desta quinta-feira (15) na íntegra: