Sanfoneira vai dar tom sertanejo ao desfile da Imperatriz Leopoldinense
Lucy Alves encantou o compositor Zé Katimba.
Ela está se preparando voz e fôlego para suportar instrumento de 11 quilos.
Do G1
Foi paixão à primeira vista. Numa viagem à Paraíba natal, o compositor Zé Katimba, de 73 anos, único fundador vivo da Imperatriz Leopoldinense, ouviu pela primeira vez a sanfona de Lucy Alves, de 29 anos, e não resistiu: trouxe a jovem para desfilar pela escola de Ramos. Isso foi em 2015. Mas foi o amor pelo talento de Lucy que derreteu o coração verde e branco de Katimba, um dos autores do samba deste ano, no enredo em homenagem aos sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano. Ele a convidou não só para participar da gravação do CD das escolas de samba e já garantiu um lugar para ela – e sua sanfona no carro de som da Imperatriz no dia do desfile.
Lucy, ex-participante do ‘The Voice’, que passou o ano se dividindo entre os shows que faz pelo país e os ensaios na quadra da escola em Ramos, diz que está ansiosa pela estreia como intérprete de apoio do samba-enredo. A responsabilidade é grande, por isso, ela vem se dedicando como nunca.
“Além de tocar sanfona, também canto coco e forró. Estou acostumada a me apresentar em público. Mas o Sambódromo é diferente. Participar do maior espetáculo da Terra exige dedicação extrema. E estou em preparando para isso desde as eliminatórias do samba. Estou fazendo um trabalho para aguentar os 82 minutos na avenida, preparando a voz e o fôlego”, diz Lucy, que no desfile vai tocar uma sanfona que pesa aproximadamente 11 quilos e vai usar fantasia.
Natural de uma família de músicos – bisavô, avô, tios e pai, todos tocam algum instrumento – Lucy conta que começou a tocar violino aos 4 anos. A sanfona foi o último dos 11 instrumentos que aprendeu a tocar, mas é por ela que Lucy tem maior carinho. Ela integra o grupo de forró Clã Brasil, formado por duas de suas irmãs e uma amiga. E este ano foi convidada para estrear como atriz na novela “Velho Chico”, da TV Globo.
Mais do que a simpatia e a beleza da sanfoneira foi o som que Lucy consegue extrair do instrumento que encantou e emocionou o tarimbado Zé Katimba. Ele conta que tinha feito 70 anos e decidiu visitar Itaporanga, na Paraíba, de onde saiu aos 10 anos e nunca mais tinha voltado. E que foi praticamente tocado por um anjo.
“Conheci o pai de Lucy, o violonista Zé Badu e fui a um show do Clã Brasil. Fiquei impressionado com o talento de Lucy. Ela é uma virtuose. Nunca tinha ouvido uma sanfona assim. Aí, falei: menina, vamos para o Rio que vou levar você para a Imperatriz. E ali mesmo já, numa conversa com Badu já começamos a pensar numa parceria, já estamos troncando ideias para um samba juntos”, conta lendário Katimba, 12 vezes vencedor de sambas-enredo pela Imperatriz.
Katimba, que já foi presidente da escola e que atualmente faz parte da diretoria diz que tem traquejo para talentos e samba. Na Imperatriz já fez de tudo: foi puxador de corda, diretor de ala, de harmonia, passista, compositor. Nas mais de duas mil composições que contabiliza ter feito ao longo da vida, faz questão de frisar que nunca escreveu uma palavra que falasse mal de uma mulher.
“Só não fui puxador porque a voz não ajuda. Mas cantava na quadra. Sei reconhecer um talento e a Lucy é diferente. Ela consegue cantar e tirar da sanfona uma sonoridade insuportavelmente linda. Isso é talento nato, é… é o amor”, conclui o encantado Katimba.