Suspeito de decapitações diz que tinha que matar para ‘completar ciclo’
Declaração foi feita em depoimento à polícia, ao qual o G1 teve acesso.
Jonathan é suspeito de seis homicídios em 5 dias; maioria por decapitação.
Do G1
O segurança Jonathan Lopes de Santana, de 23 anos, suspeito de ter matado seis pessoas em Mogi das Cruzes e Poá – cinco delas por decapitação – disse à polícia que cometeu os crimes porque vozes o mandavam completar um ciclo de mortes. O G1 teve acesso ao termo de interrogatório elaborado pela polícia no dia em que ele foi preso. “As vozes diziam que eu iria morrer também se eu não matasse”, contou Jonathan.
O suspeito foi preso depois que três pessoas foram decapitadas em um período de uma hora em Mogi. Segundo a polícia, além desses, ele confessou outros três homicídios. Em um dos casos não houve decapitação. A vítima foi esfaqueada e queimada. De acordo com o delegado Seccional Marcos Batalha, o segurança atacava com golpes de machadinha na cabeça e depois decapitava as vítimas.
De acordo com o depoimento de Jonathan à polícia, as ‘vozes’ lhe falavam que era preciso completar um ciclo de três vítimas em um período entre 6h e 6h59. “As vozes lhe falavam que tinha que completar o ciclo, desta vez seria três vítimas dentro do período das 6h às 6h59 da manhã. Eu teria que matar três mendigos hoje senão iria ter que matar mais três amanhã, pois não teria cumprido a cota para finalizar o pacto ou transtorno.”
Ainda segundo o depoimento, após matar a primeira vítima na quarta-feira – o morador de rua Carlos César de Araújo, de 34 anos – Jonathan disse que mataria outros dois mendigos, mas estes fugiram e o ‘ciclo’ não foi completado. Também disse que o ‘ciclo’ poderia ter relação com uma tatuagem que ele mesmo fez na perna, com o número 36. Ainda segundo o depoimento, Jonathan não sabia dizer se o número 3 seria referente à data do crime e o número 6 seria o de vítimas. Outra possibilidade, de acordo com o próprio suspeito, é a de que o número 3 representaria as três vítimas e no período de 6h e 6h59. Uma terceira possibilidade, ainda de acordo com ele, poderia ser contabilizar seis vítimas até o dia três. “Tudo pode ser”, disse.
Vozes e tatuagens
Jonathan contou à polícia que ele começou a ouvir as vozes após sair da empresa onde trabalhava como segurança. Ele disse ter pedido demissão após um desentendimento. “A partir deste fato, passou a ter alguns transtornos mentais e surtos, sair de si, ficar estressado, violento, inquieto e ouvia vozes de vários tipos”.
De acordo com o depoimento, a voz o deixava impaciente e o motivava a fazer “coisas erradas”. Ele disse também que “sabia que era algo maligno, que o levava a fazer tatuagens no corpo.” Além do número 36 na panturrilha direita, fez uma machadinha no braço esquerdo.
No interrogatório, o suspeito disse também que ele mesmo fez as tatuagens com uma agulha e sem tinta. “Tinha ciência que iriam sair, não se importava com isso, queria que fossem momentâneas.”
Ainda de acordo com Jonathan, a tatuagem feita representando o machado não tinha relação com os crimes. “Tatuou o machado não porque tinha relação com os crimes que cometeu e sim porque possuía o machadinho há dois anos, o guardava no armário e utilizava para corte de lenhas e também para ter uma arma de defesa em casa”. Além do machado, Jonathan guardava no seu quarto uma faca de cozinha.
Escolha das vítimas
Em depoimento, o suspeito contou também sobre o motivo da escolha das vítimas. Segundo ele, antes de praticar o primeiro crime, no Distrito de Brás Cubas em Mogi, “tudo ficou misturado em sua cabeça: o desemprego, as vozes e os filmes de guerra que assistia”. Disse ainda que a escolha por usuários de crack e mendigos é “porque a droga leva as pessoas à perdição e os mendigos, porque eles são os que menos estão integrados aos sistemas”. No entanto, em seguida, Jonathan afirmou no depoimento que sabia que há moradores de rua que trabalham com reciclagem e também que nos últimos dias estava usando maconha “em virtude de estar muito depressivo”.
Já com relação às duas mulheres que foram atacadas na quarta-feira (3), Jonathan afirmou ter pensado que a primeira fosse uma moradora de rua. “Passou por ela parando o carro mais adiante, acreditando realmente que ela era moradora de rua por causa das vestimentas e por tê-la avistado próximo à cabana”, local no bairro do Rodeio em Mogi onde, segundo o suspeito, há uma cabana ocupada por moradores de rua.
Quanto à vítima Maria Aparecida do Nascimento, que foi decapitada após perder o ônibus, Jonathan diz que ela foi morta porque ‘precisava completar o ciclo’. “As vozes lhe falavam que tinha que completar o ciclo, desta vez seriam três vítimas dentro do período das 6h até às 6h59”. Jonathan contou no depoimento que ao avistar a mulher que estava bem vestida, sabia que ela não era mendiga ou usuária de drogas. Mas como o tempo estava acabando, optou por ela. “Caso contrário teria que fazer três vítimas no dia seguinte.”
Jonathan afirmou ainda que não participa de grupos de intolerância social e nem de seitas e que o motivo de ter matado as vítimas é porque as vozes disseram. “Eu deveria fazer as vítimas com um julgamento mais coerente possível. Os mendigos e usuários estão excluídos do sistema, então eu deduzi que eles é o que menos interessa para a sociedade”. Jonathan disse que acreditava que mantando-os iria agravar menos seu crime.”
Também durante o interrogatório, o suspeito negou ter agredido o filho de sua prima, “já que a criança não condiz com o perfil das vítimas que fez e dos pedidos das vozes”. Ele afirmou também que não é de sua índole agredir crianças.
‘Modus operandi’
Jonathan disse à Polícia Civil que ao cometer o primeiro crime no sábado (29) ele passou a adotar um ‘modus operandi’ em que ele golpeava primeiramente a vítima com uma coronhada. Após deixá-la desacordada, aplicava os golpes com a faca e usava a machadinha para decapitá-las. “Assim ela sofria menos”.
Jonathan contou também à polícia o que fazia durante e após os crimes que praticava. Segundo ele, após atacar dois moradores de rua na noite de segunda-feira (1º), chorou de remorso. Porém, na maioria dos casos, ele voltava para casa e lavava a machadinha, a faca e as roupas. Disse também que não contava a ninguém do crime que praticou e que “aquelas cenas dos crimes cometidos, mais as vozes e o remorso” ficavam na sua cabeça durante o dia todo.
O caso
Jonathan Santana, de 23 anos, foi preso no dia 3 de dezembro, após a denúncia de uma testemunha que o teria flagrado cometendo um dos crimes em Mogi. A pessoa anotou a placa do carro usado na fuga, o que levou os policiais até a casa do segurança, onde encontraram marcas de sangue no veículo e em roupas. Na manhã desse mesmo dia, três corpos decapitados haviam sido encontrados em Mogi. Na delegacia, o jovem teria confessado seis crimes.
Segundo uma lista de vítimas apresentada pela polícia, a primeira delas foi Flávia Aparecida de Paula Honório, de 38 anos, decapitada em um local conhecido como Favela do Gica, no distrito de Brás Cubas, em 29 de novembro. No dia 1º de dezembro, o suspeito teria atacado dois moradores de rua na Avenida Francisco Rodrigues Filho, no bairro do Mogilar. Um deles, ainda não identificado, morreu esfaqueado e queimado. O outro foi levado em estado grave para o Hospital Luzia de Pinho Melo, onde está internado.
Na noite do dia 2 de dezembro, a vítima foi Kelly Caldeira da Silva, decapitada em Poá. Em 3 de dezembro, foram três vítimas: Carlos César de Araújo, morador de rua, e Maria Aparecida do Nascimento, atacados em diferentes pontos da Avenida Francisco Rodrigues Filho, e Maria do Rosário Coentro, decapitada na Avenida Antonio de Almeida, no Rodeio.
Na noite do mesmo dia, segundo o delegado seccional Marcos Batalha, um morador de rua ferido procurou a polícia dizendo ter sido atacado por Jonathan no dia 30 de novembro em frente ao Hospital Luzia de Pinho Melo. Ele contou ter sido agredido com uma machadinha e que reconheceu Jonathan como seu agressor ao vê-lo em reportagens. Além disso, o segurança é suspeito de ter tentando matar uma criança de 3 anos.