‘Uma grande armação’, diz vereador sobre investigações em Caruaru
Parlamentares não saberiam por quais motivos foram indiciados.
Edis são suspeitos de corrupção passiva e organização criminosa.
Uma coletiva foi realizada nesta sexta-feira (27) pelos dez vereadores que estiveram presos após a Operação Ponto Final, desencadeada no dia 18 de dezembro. Sivaldo Oliveira (PP), Val (DEM) e Evando Silva (PMDB) representaram os demais e declararam inocência de todos, mas não passaram informações concretas sobre os possíveis motivos do inquérito da Polícia Civil. Eles afirmaram que sequer sabem os fatos que dão base para indiciá-los por corrupção passiva, crime contra administração pública e organização criminosa.
Evandro Silva iniciou os depoimentos e questionou a falta de defesa na prisão preventiva e falou abertamente sobre um esquema que pode estar por trás das prisões. “Foi pego todo mundo de surpresa. Vocês veem que foi de um pessoal que já vinha preparando isso, inclusive sabendo às vezes até da sentença. Porque foi veiculado que um senhor suplente de vereador ia para um cargo. Estava tudo já esquematizado”, afirmou.
Sivaldo Oliveira e Cecílio Pedro (PTB), da situação, são considerados pela polícia os líderes do grupo criminoso, juntamente a Val, líder da oposição. Eles dizem não entender o porquê destes indícios, já que mais de 99% dos projetos vindos da Prefeitura de Caruaru teriam sido aprovados. “Formação de quadrilha – que termo tão pesado! Formação de quadrilha de quê? Então, quer dizer que a partir do momento que você defende algo e é a favor ou contra, você é de uma quadrilha? Como é que uma quadrilha trabalha aprovando tudo que o prefeito quer? O que era bom para Caruaru foi aprovado, inclusive o BRT”, comentou Oliveira, o segundo a se pronunciar na coletiva. Os edis reafirmaram a fala do prefeito José Queiroz de que ninguém pagou ou recebeu propina, em momento algum.
“Estou muito tranquilo e confiante na certeza de que todos nós sofremos uma grande armação”, diz Val sobre as investigações. A polícia gravou mais de 700 horas em escutas ambientes, telefônicas e material em áudio e vídeo para colher as provas do inquérito. Os vereadores envolvidos estariam unidos para obter propina, a fim de aprovar projetos.
Para eles, o que pode ter havido é um mal entendido em falas ou ações. “Muitas vezes você fala uma coisa e a pessoa entende de outra forma. Às vezes você solta uma brincadeira e o povo pensa que é verdade, leva para outro sentido. Aqui temos um grupo de amigos. Amigos que discutiram projetos e aprovamos os projetos. E aí, o que tem de errado com isso? Caruaru vai saber no tempo certo, acreditamos na justiça”, falou Sivaldo Oliveira.
Apontado pelo delegado Erick Lessa como mediador do grupo, o vereador Eduardo Cantarelli (SDD) foi questionado pelo G1 se ações ou articulações políticas dele podem ter sido confundidas com práticas ilícitas. “A gente foi preso de forma arbitrária. A gente está tendo a primeira oportunidade de se defender e falar com a população caruaruense. O que foi falado pelo delegado, ele está fazendo o papel dele e respeito; o que vai ser falado pela gente, vai ser no momento – se houver processo – de defesa. Ele pode falar muito bem de mim, de Evandro, de Sivaldo, o que quiser, mas eu quero ver se ele vai provar o que está falando”.
Após o fim das perguntas da imprensa, o vereador Val retomou o microfone e comentou que a prisão “aconteceu na véspera da CPI que ia investigar o prefeito que aí está”.
Conclusão do inquérito
Na tarde desta sexta-feira (27), a Polícia Civil realizou uma coletiva de imprensa, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, para divulgar mais informações sobre a “Operação Ponto Final”.
De acordo com o gestor operacional do Interior I e presidente da investigação, Erick Lessa, três vereadores foram considerados os mentores do suposto esquema. “Os cabeças eram Cecílio Pedro (PTB) e Sivaldo Oliveira (PP) da situação, e Val das Rendeiras (PROS) da oposição. A mediação entre as partes era feita pelo vereador Eduardo Cantarelli (SDD) que era o mais ousado do esquema” afirma Lessa. Questionado o porque de ‘ousado’, o delegado afirma que ele era bem incisivo nas negociações.
Na investigação foram usados mais de 700 horas em escutas ambientes, telefônicas e material em áudio e vídeo para colher as provas que seriam suficientes para pedir a prisão preventiva.
Os vereadores são suspeitos da prática de Corrupção Passiva, que é a solicitação de vantagem indevida; de Concussão, que é crime contra a administração pública e ainda de Organização Criminosa, que é a integração e ações de cunho criminal. No caso dos vereadores, por serem funcionários públicos, a pena de Organização Criminosa pode aumentar de 1/6 a 2/3.
Somando as penas, a maioria dos vereadores teriam 56 anos de prisão. Apenas Cecílio Pedro e Sivaldo Oliveira teriam 28 anos de reclusão. Sobre isso, o delegado afirmou que por eles serem “os mentores do esquema”, foi mais difícil encontrar provas.
Delação Premiada
Ainda de acordo com o delegado Erick Lessa, um dos vereadores que ajudou a polícia durante as ouvidas foi Jadiel Nascimento (PROS). Ele apelou pela delação premiada, porém o Ministério Público entendeu que o depoimento dele não teria ajudado a esclarecer como o esquema, de fato, estava sendo feito. O delegado esclareceu ainda que o parlamentar contou que recebeu, a título de empréstimo, 20 mil reais para realizar a votação de um outro projeto.
Mas a polícia não revelou que projeto seria esse e nem de quem ele teria recebido o dinheiro.
Ao todo foram ouvidas 37 pessoas na investigação, entre elas os 23 vereadores, cinco secretários, além do prefeito e do vice-prefeito de Caruaru. O inquérito policial que foi apresentado tem mais de 500 páginas.
Demissão de assessores
O presidente da Câmara de Vereadores de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, Leonardo Chaves (PSD) disse ao G1 nesta sexta-feira (27) que está preocupado com a atual situação da Casa. Segundo ele, a Câmara terá que realizar no mês de janeiro o pagamento de 33 vereadores. “Terão que receber os salários os dez vereadores que estavam presos e foram afastados dos cargos por decisão judicial, os dez suplentes que assumiram no lugar deles e ainda os outros treze parlamentares que estão trabalhando normalmente”, afirma.
Segundo Chaves, a decisão do juiz foi que os dez parlamentares presos no dia 18 de dezembro durante a operação “Ponto Final” da Polícia Civil ficariam afastados dos cargos por 180 dias, mas continuariam recebendo normalmente até que o inquérito seja concluído. “Temos que cumprir essa decisão e pagar os subsídios desses vereadores. O problema é que eu não tenho caixa para pagar aos 33. Da verba que a Câmara recebe da prefeitura, 30% é destinada aos custeios da casa e os outros 70% é para o pagamento de pessoal, como servidores, vereadores e assessores. Se eu tiver que pagar aos 33 parlamentares e ainda o resto do pessoal vou ultrapassar esses 70% e infringir a lei de responsabilidade fiscal”, disse.
O presidente da Câmara informou ainda que para evitar que isso aconteça, o jeito será demitir alguns assessores. “É o caminho mais correto. Infelizmente teremos que demitir algumas pessoas. Fico constrangido e preocupado, mas isso tem que ser feito porque não quero desobedecer a lei. Espero que tudo isso seja resolvido logo para que a Câmara volte a funcionar em seu curso normal”. De acordo com Chaves, a Câmara possui atualmente cerca de 220 assessores.
Do G1