Vinte anos da Comissão do Cine Teatro São José – “Uma constante história de voluntariado”

Em 01 de maio de 1994, aconteceu um grandioso ato público em frente ao prédio do Cine Teatro São José que à época se chamava Cine Teatro Pajeú em prol da sua reestruturação, culminando com um mutirão de limpeza que contou com a presença de mais de 200 (duzentas) pessoas do poder público, do tiro de guerra, de alunos, artistas, entidades e o povo que abraçou a luta em prol de um patrimônio artístico e cultural que resistiu ao tempo e ao descaso.

Após o movimento foi formada uma comissão de 25 (vinte e cinco) membros responsáveis pela condução dos trabalhos. Depois de alguns meses muitos destes membros, por motivos particulares, foram ficando pelo caminho, restando somente 5 (cinco): Augusto Martins, Carlos Gomes (o Carrinho de Lica), Evanildo Mariano, José Arlindo e Marcos Antônio, formando então a Comissão Pró-restauração do Cine Teatro São José. Neste mesmo ano, foi assinado o Termo de Comodato entre a Ação Diocesana e o Grupo Frente Jovem que representava juridicamente a Comissão.

comissao-cine-sao-jose-268x300Hoje nos estúdios da Pajeú para contar um pouco do que foram estes vinte anos de história, dos desafios futuros e das atividades elaboradas para a comemoração da data, dois dos três atuais responsáveis pela comissão, Evanildo Mariano e Marcos Antônio que é composta ainda de Carlos Gomes.

Para celebrar a data a comissão preparou quatro dias de atividades. Confira abaixo a programação:

  • Quarta, dia 30 de abril às 20h – Sessão Solene na Câmara de Vereadores, por requerimento do vereador Igor Mariano;
  • Quinta, dia 01de maio às 20h – Mostra de curtas e debate no Cine Teatro São José, sobre o cinema pernambucano. Com participação do cineasta Camilo Cavalcanti, do Editor Caio Zatti e do ator Sílvio Pinto;
  • Sexta dia 2 de maio às 20h – Cine Musical. Com apresentação de vários artistas no Cine Teatro São José;
  • Sábado dia 3 de maio – Cine Pipoca. Com filme infantil para a criançada.

Desafios

O próximo desafio da comissão será digitalizar a exibição de filmes, uma exigência do mercado cinematográfico, que está decretando o fim dos filmes em rolo. Para isso, uma nova mobilização está sendo preparada. As produtoras deverão assumir 50% para aquisição dos equipamentos necessários para a modernização da exibição com a comissão – amparada pela comunidade – assumindo os outros 50%.

História

ocin3O prédio do cinema, construído pelo Senhor Helvécio César de Macedo Lima, denominado, à época, Cine Teatro Pajeú, foi inaugurado em 14 de Novembro de 1942. O Senhor Helvécio Lima, homem dinâmico, inteligente e farmacêutico, com sua visão futurística, projetou e executou o Cine Teatro Pajéu, trazendo as máquinas operadoras e projetores importados da Alemanha. Os primeiros operadores dessas máquinas foram os Srs. Manoel Rocha (Nezinho Rocha) e Antônio Silvestre (Antônio Dondom). O Cine Teatro Pajeú foi palco de grandes eventos, tais como: apresentação de peças teatrais, ensaiadas pela Srª. Teresa César Véras (D. Tetê), pela profª. Letícia de Campos Góes e outras senhoras da sociedade local. Vários grupos de teatro de cidades vizinhas se apresentaram no palco do Cine Teatro Pajeú (Sertânia, Triunfo, Monteiro, etc.). Em dezembro de 1960, o histórico Cine Teatro Pajeú sediou a colação de grau da 1ª turma de professores da Escola Normal Rural, atual Colégio Normal Estadual. Em 1956, sediou o Congresso Eucarístico Sertanejo, evento de grande importância para um povo religioso e para o município sede da Diocese.

A instalação da Diocese de Afogados da Ingazeira, na década de 50, tendo como 1º Bispo, o religioso Dom João José da Mota e Albuquerque, mudou a denominação do Cine Teatro Pajeú para Cine Teatro São José, em decorrência da compra efetuada ao Senhor Helvécio Lima, passando a propriedade para a Ação Diocesana. Homem de grande visão, Dom Mota (como era mais conhecido) renovou o maquinário o Cinema adquiriu dois projetores Phillips holandeses (FP 5) tela panorâmica, gerador a diesel, 560 novos assentos.

Dom Mota selecionava os filmes de acordo com os parâmetros cristãos da época e as sessões eram realizadas às quartas-feiras, sábados e domingos. Após a posse de Dom Francisco Austregésilo de Mesquita filho, novo Bispo Diocesano, em 1961, o Cinema é fechado, em decorrência de uma divida causada pelo excedente de funcionários. Passados seis meses, o Cinema foi alugado em sistema de concorrência com envelopes lacrados. Algum tempo se passou chegando ao conhecimento do Senhor Bispo Diocesano que o Cine Teatro São José seria penhorado pela Brasil Filmes, por falta de cumprimento de contrato e multas acumuladas. A Diocese entrou em acordo com a Brasil Filmes e conseguiu reverter o processo.

Passou a alugar a outras pessoas e os problemas foram se acumulando, até que o Sr. Bispo foi obrigado a fecha-lo. Transformando em espaço para shows e eventos da Diocese e da comunidade, ficou o grande prédio do Cinema subutilizado, deteriorado e abandonado, culminando com a venda dos projetores, máquinas e parte das cadeiras, até o prédio é colocado à venda pela Diocese.

Em 1990, passada mais de uma década, pessoas interessadas em reverter o quadro de abandono do Cinema, apresentam uma Emenda à Lei Orgânica Municipal, tombando o prédio como Patrimônio Histórico de Afogados da Ingazeira, impedindo assim, a venda e afugentando os possíveis compradores.

Figura10Mas, a ação do tempo e o abandono foram implacáveis e o velho cine não resiste, o telhado desmoronou, destruindo o que restava das cadeiras. O cupim destruiu janelas e ameaçou até as paredes. No dia 1 de maio de 1994, idealizado pelo Grupo de Teatro Raízes do Sertão, o Grupo Frente Jovem fez uma mobilização, realizando um grandioso ato público em frente ao velho prédio. Ato que contou com a participação popular, onde foi formada uma comissão para lutar pela restauração do antigo Cinema. No dia 14 de setembro do mesmo ano, realizou-se o mutirão de limpeza, contando com a participação efetiva de 106 voluntários. Era a primeira ação de reforma do prédio.

A comissão, formada na época por 25 integrantes, juntou-se à vontade da população afogadense, passando a realizar uma série de movimentos como: shows, serestas, bingos, a fim de conseguir os primeiros recursos para o inicio da reforma. A estes recursos, somaram-se uma verba no valor e R$ 20.000,00 (vinte mil reais), conseguidos junto ao então Governo do Estado, em setembro de 1996. Valor suficiente para uma intervenção importante: restauração das paredes laterais com 10 (dez) colunas, um radier de concreto e toda a cobertura com estrutura metálica. A cobertura foi inaugurada em 25 de janeiro de 1997 com a presença do representante do Governo do Estado, o escritor Raimundo Carrero, então presidente da FUNDARPE, do Deputado Federal e Secretário da Fazenda Eduardo Campos, do Deputado estadual Orisvaldo Inácio e do Prefeito Municipal Antônio Valadares.

Nesta ocasião, caiu uma forte chuva, testando e aprovando o motivo daquela sessão solene: a inauguração do novo telhado do Cine Teatro São José.

A comissão constituída em 1994 continuou lutando para a conclusão da restauração do prédio. O povo ajudava como podia os comerciantes, as donas de casa, os jovens, a Prefeitura Municipal e os amigos do cinema.

Em março de 1998, um convênio assinado entre a Prefeita Maria Gizelda Simões Inácio e o Governador do Estado Miguel Arraes, no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) viabilizou a conclusão de mais uma etapa: piso grosso, palco, reboco interno, aquisição de portas e janelas, forro em gesso, instalação elétrica, conclusão de banheiros. O espaço ganhou condições para sediar eventos como, a transmissão via telão da copa do mundo em junho de 1998. Das 560 antigas cadeiras, a comissão conseguiu recuperar 90, que haviam sido cedidas à Faculdade Local.

gfu_800_00006251No dia 28 de novembro de 1998, foram adquiridos com recursos próprios de um Cinema da cidade de Surubim – PE, uma sala de projeção com projetores Phillips holandeses, do mesmo modelo daqueles vendidos anteriormente (FP 5). Com esse maquinário, o sonho do cinema voltar a funcionar povoa a mente dos afogadenses. Em 1999, um técnico do Cinema do Teatro do Parque da cidade do Recife, o Sr. José Hildo é contratado pela comissão para proceder à instalação dos projetores, tela panorâmica, sistema de som e acústica. A Prefeita Municipal, Profª. Maria Gizelda Simões Inácio patrocinou, com recursos próprios, 120 (cento e vinte) cadeiras, inclusive o transporte destas, da cidade de Cortês – PE.

No ano de 2003, outro convênio foi assinado entre o governo municipal de Afogados da Ingazeira na gestão da Profª. Maria Giselda Simões Inácio e o governo do estado de Pernambuco na gestão do Dr. Jarbas de Andrade Vasconcelos, através da FUNDARPE no valor aproximado de 500.000,00 (quinhentos mil reais) onde foi concretizada toda acústica, climatização, piso, camarins, novos banheiros, pintura interna e externa, entre outros serviços no prédio. Finalmente em 26 de dezembro de 2003 houve a reinauguração definitiva do Cine Teatro São José, patrimônio histórico dos afogadenses e da região do Pajeú. Com as diversas atrações festivas reviveram os “anos dourados” do cinema, e no dia seguinte foi exibido o primeiro filme.

Ouça abaixo o Debate na íntegra:

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *